sábado, 13 de abril de 2013

Acabou e Dá Para Ver




Acabou. Dá para ver pelo modo como se olham e pelas vezes que preferem nem se olhar. Dá para ver como eles nem ao menos brigam porque se enfiaram num silêncio e não sabem mais como sair. Acabou e a melodia da música que falavam deles começou a ficar insuportável, ele perdeu o ritmo e ela está procurando outra canção só para ela. Dá para ver pelos telefonemas mudos, o “eu te amo” no automático, os beijos mais frios do que as temperaturas mais baixos do inverno.


Dá para ver pela indiferença dele que finge que não vê enquanto assiste futebol e bebe cerveja. Pelo jeito com que ele parou de enxerga-la, de escuta-la, de espera-la. Acabou a vontade de estar junto, a necessidade de se tocarem, o prazer de se olharem. Dá para ver pelo modo com que ela anda sorrindo, pelo cabelo quebradiço, pelos pés arrastados pelo apartamento. Acabou o café e nenhum deles se levantou para fazer outro. Acabou a paciência e a falta dela também. Acabou a vontade de brigarem e mandarem um no outro pra ver se as coisas melhoravam. Acabou os sonhos, os planos, o futuro que queriam porque acabou o presente para aqueles dois.

Dá para ver pelo modo como não se procuram, pelas discussões que não tem, por todas às vezes que ela fica em casa enquanto ele sai. Acabou o ciúme e a insegurança. Dá para ver pelos telefonemas que ele recebe e ela finge que nem se importa. Pelas vezes que ela olha no relógio como se esperasse a hora que ele teria coragem de ir embora. Acabou a saudade, o desejo e o açúcar. Acabou a pimenta também. Dá para ver pelo molho alho e sal que ela prepara na cozinha. Acabou a vontade de estar junto, a bagunça e o barulho. Acabou a doença e a paixão. Dá para ver pela cama silenciosa, pela falta de palavras e a distância que os corpos estão. Dá para abraçar o mundo e não dá para abraçar um dos dois.

Acabou as portas batidas, a bagunça da sala, o tumulto da alma. Acabou o coração disparado, o embrulho do estômago. Acabou a fala, o discurso, a felicidade e o desejo. Acabou para ele, acabou para ela, acabou para os dois e acabou a vontade de recomeçar.

Acabou o café.

Dá para ver, de longe, que já acabou para ambos aquele tal de amor.




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