sábado, 14 de setembro de 2013

Manifesto Por Menos Embalagem, Mais Conteúdo





Sou uma consumidora de livros e quem me acompanha, ainda que pouco, sabe que estou sempre com um nas mãos e pelo menos três esperando sua vez na estante. Já comprei livros por capa, título, e pelos comentários que são exibidos no final. Todo mundo sabe que um título de efeito e uma capa bem feita chamam mais atenção. Mas, como louca por livros que sou, também já comprei por impulso, só pelo prazer de comprar. Livros realmente bons, porém não com capa espetacular, esperando que alguém lhe desse uma segunda olhada, foleasse as páginas e se permitisse conhecer a história que gravaram dentro dele. Já li muito livro de capa bonita, alguns até best-sellers, que sequer me convenceram. Como bookholic, aprendi que capas bonitas nem sempre são prelúdio de livro bom. Vale para as pessoas. Vale para a vida. Aonde quero chegar? Aparência não é tudo.


“Beleza não se põe mesa” sempre diz minha vó quando resolve dar um desses conselhos que os mais velhos adoram. E eu concordo. É claro que não vou ser hipócrita e dizer que não gosto de homens bonitos. Toda mulher gosta. Assim como todo homem gosta de olhar mulheres bonitas. Mas, numa relação, isso pouco importa. Depois dos quinze minutos, não há aparência de Deus grego –nem mesmo Johnny Depp –que salve um papo ruim. O cara bonitinho deixa de ser tão bonitinho assim se ele não consegue mostrar que, além de uma capa bonita, há uma boa história capaz de nos prender e nos fazer querer ler cada vez mais. Por outro lado, aquele cara que não te conquista na primeira olhada, pode te surpreender se você se permitir analisar mais do que sua embalagem.

A verdade é que a televisão, o cinema, os livros, nos fizeram acreditar que há um tipo de beleza, apenas, um modelo a ser seguido. Mulheres tem que ser magérrimas feito modelo de passarela ou gostosas como as mulheres do funk que exibem seus corpões nos palcos. E os homens, de preferência, precisam ser morenos, altos, fortes, sarados, bonitos e sensuais. A padronização nos faz parecer modelos em série produzidos por uma mesma máquina. Perdemos nossa identidade, nossas digitais, o prazer de sermos imperfeitos e únicos. O resultado disso todos nós sabemos: transtornos alimentares, adolescentes de treze anos indo para a academia, desespero –que às vezes viram doenças –por se encaixar num mercado (isso mesmo, mercado) cada vez mais exigentes e surreal. Viramos produtos. Precisamos de embalagem.

Mas o amor nunca teve haver com um mercado, com rótulos ou padrões impostos aqui ou lá. E com o tempo a gente percebe que mais importante do que o reflexo de nosso espelho é o que refletimos em nossa alma. Desfilar com alguém bonito pode ser legal se você tem a intenção de viver numa passarela 24 horas por dia. Para mim, o amor pouco tem a ver com ostentação. E está além do “relacionamento sério com” que exibimos nas redes sociais para mostrar o gato (ou gata) que conquistamos. Mais importante do que um rosto bonito e um corpo escultural é um coração bonito que esteja disposto a aceitar nossos defeitos, manias, esquisitices e imperfeições que temos e tentamos esconder com sorrisos de boneca e corpo conquistado na academia. Mais importante do que olhos claros é uma alma clara (e não falo de cor, mas da bondade que carregamos e estamos dispostos a dividir com as pessoas).

Caios Castros e Johnnys Depps, Brunas Marquezines e Jennifers Anistons, são legais de se olhar –na televisão –No dia-a-dia, a gente aprende a não comprar o produto pela embalagem, a não se ludibriar completamente por boas propagandas. Não estou dizendo que rostos bonitos não tem conteúdo. Só dizendo que ser considerado perfeito não é tudo. Aparência não é tudo. A não ser que você queira viver um amor para os outros e não para você, mostrar para as pessoas um status invejável no facebook porque traçou alguém irresistível. Mas ainda acredito que a maioria de nós sonha em viver realmente um amor, entre quatro paredes, não na rua. Por trás de um príncipe, todo mundo já encontrou um sapo. E, talvez, se você se permitisse outra chance, conseguiria ver no Shreck um príncipe que tanto procura por aí.

No fundo, somos como os livros. Mais importante do que a capa que alguém fez para você, é a história que você conta para quem se permite te ler. Pare de olhar para o espelho e olhe para dentro de você: seu conteúdo convence? Tomara que sim. Nada é mais decepcionante do que um rostinho bonito sem conteúdo. Nada é mais apaixonante do que um bom conteúdo por trás de um rosto comum que precisa de mais de uma encarada. Produtos a gente até pode comprar pela embalagem e livros pela capa –não há nenhum crime nisso –Mas pessoas não são produtos. E o amor, quando verdadeiro, é mais bonito que qualquer fantasia que vestimos por aí.


Pense nisso.

3 comentários:

  1. Comentar o que nesse texto perfeito? Que está doando meu rosto do tapa que levei? Pode ser, porque é verdade.

    Você arrasa né Fê? não canso de falar.

    amei <3<3

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  2. Parece a conversa que eu tive com você ontem. Mas OK.

    Tem como ser mais foda que isso?? Então... Quando eu acho que isso NÃO é possível, você vem e me surpreende mais uma vez. Como pode>?!

    Pra NÃO variar NADA, eu amei esse texto, né?!

    E assim, só pra destacar, eu quero dizer que amei essa frase: "Mais importante do que a capa que alguém fez para você, é a história que você conta para quem se permite te ler."

    Enfim, é isso.

    E QUE VENHAM MAIS TEXTOS FODAS ASSIM <3<3<3<3<3<3<3

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  3. Que perfeição de texto!

    Trancação mesmo.Curtido 1324748 de vezes.
    Amo a tag Entre A Gente, tu fecha :D
    <333

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Comentários

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