Eu sei que talvez você espere mais um desses textos
motivacionais meia-bocas que sempre lê por aí quando a coisa aperta. Aquela
baboseira de sempre: o tempo cura, a dor passa, os dias se vão e logo você nem se lembra mais. Bem, péssima
notícia para você: o tempo nem sempre cura, a dor nem sempre passa, os dias até
se vão, mas algo sempre fica. O desespero não resolve. Momentos ruins acontecem
todos os dias, vencê-los não é glória para ninguém. É nossa obrigação. Ninguém
nunca disse que seria fácil e não adianta quantas doses diárias de autoajuda
você tome, você sabe tão bem quanto eu que não é o bastante. Então sem pressa,
quando a dor aparecer é melhor que você deixe sangrar, doer e cicatrizar
naturalmente. Sem desespero. Respira. E não pira.
Se lamentar aos quatro cantos não muda a decepção que só
está dentro de você. O mundo não para para escutar a sua dor. Por maior que ela
seja: o mundo continua girando, bem embaixo dos seus pés. Dói e não é pouco e
eu bem sei (o amigo que te deu as costas, o amor que acabou, aquela mentira que
fez todo o resto parecer mentira também). Colar um band-aid, ensaiar um sorriso
feliz na frente do espelho, apressar a cicatrização não vai te ajudar a
superar. Aprenda que as coisas doem na gente o tanto que deixamos que elas
doem, mas também o tanto que precisamos para realmente conseguir virar a
página, abandonar o livro, se interessar por outra história. Sem drama mesmo,
sabe? E sem culpa também. Há sempre algo ou alguém que vai nos doer para sempre, independente da
nossa vontade, de quanto o tempo passe, de quantos textos autoajuda você engula
e de quantas vezes você diz que já superou quando na verdade nem mesmo se
arriscou a virar a página. Há sempre uma
porta que deixaremos aberta esperando por um retorno que não vai acontecer –e que, idiotas que somos, ainda esperamos. –Há sempre alguma coisa aí, dentro de você, que
vai te fazer chorar sem motivos ouvindo uma música triste, vendo um filme ou
numa noite de inverno qualquer quando o frio de dentro da gente é maior do que
qualquer cobertor. O tempo não cura, só nos ensina a lidar com o que não podemos
nos livrar. Não há glória alguma em saber disso. Não tem por quê você se
vangloriar.
Uma vez eu li que a vida era como uma roda-gigante.
Discordo, na roda gigante estamos sempre no mesmo lugar, rodando, mas a vida é
uma continuidade de caminhos tortos e difíceis que vão dar em algum lugar, por
pior que seja. Para mim, a vida é como uma montanha-russa. Numa hora a gente tá
por cima e um segundo depois entramos num looping e ficamos de cabeça para
baixo. Numa hora nos divertimos, na outra ficamos descabelados e desesperados.
Vai ter sempre alguém antes e depois da gente, sofrendo mais, rindo mais. Se o
carrinho estiver descendo muito, não se preocupe, ele vai subir. E, se ele está
subindo, não se esqueça, e se segure forte, porque a descida te arrancará
muitos gritos. Depois que a brincadeira começa, não dá para se soltar ou pedir
para parar. Se você for esperto, no final da viagem, mesmo que cheio de
arranhões e descabelado, vai conseguir rir do que passou.
Então, quando começar a doer –pela primeira ou milésima vez, não importa –sem
desespero, sem drama, sem culpa, sem pressa, sem textos de autoajuda que te
mandam engolir por aí, deixa doer. Deixa que sangre um pouco antes de você
limpar o machucado, deixa colocar pra fora o que depois você vai guardar pro
resto da vida, antes de dizer por aí que já superou e já está em outra.
Respira. E faz como eu: senta e toma um café. Se não gostar de café, toma um
chá, um suco, uma vodca ou uma tequila com limão. Mas-to-ma-al-gu-ma-coi-sa.
Nem que seja vergonha na cara.
Se o carrinho estiver descendo muito, não se preocupe, ele vai subir. E, se ele está subindo, não se esqueça, e se segure forte, porque a descida te arrancará muitos gritos. Depois que a brincadeira começa, não dá para se soltar ou pedir para parar. Se você for esperto, no final da viagem, mesmo que cheio de arranhões e descabelado, vai conseguir rir do que passou.
ResponderExcluirna espera do meu carrinho chegar eu poder rir de tudo
Melhor texto de todos. http://themariaclaradiaries.blogspot.com.br/
ResponderExcluir"Aprenda que as coisas doem na gente o tanto que deixamos que elas doem, mas também o tanto que precisamos para realmente conseguir virar a página, abandonar o livro, se interessar por outra história. Sem drama mesmo, sabe? E sem culpa também. Há sempre algo ou alguém que vai nos doer para sempre, independente da nossa vontade, de quanto o tempo passe.." Fernanda, sempre tão maravilhosa com os seus textos!
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