Parte -Mas Não Me Parte

Vai embora, mas vê se leva suas roupas que eu não quero mais olhar pra elas. Vê se leva os seus perfumes e seus livros, seus filmes e seus cds. Vê se leva os retratos que tiverem você, que eu não sou capaz de enxerga-los só comigo. Vê se leva seus objetos todos, sem deixar nada pra trás. Nem um fio de cabelo seu. Dê uma limpa no apartamento quando eu sair pra trabalhar, varra tudo que for seu e tiver no chão, guarde todo o resto na mala que carregar. E vê se também leva o espaço que você deixar. Vai embora, então, mas vê se leva os sorrisos que impregnaram nossas paredes, vê se leva seu perfume do meu travesseiro, a marca do seu corpo no colchão acostumado com a sua presença. Leva as histórias que dividimos aqui nessas quatro paredes, e em todo lugar que fomos felizes. Vai embora e leva as lembranças, por favor? Arranque-as de mim enquanto eu durmo pra ver se adio a dor dessa despedida. Apaga de mim seus toques, seu cheiro, seus beijos, seu jeito de me amar, os clímax que tirou de mim nas noites quentes e o frio que ficou em mim das noites frias. Vai embora e leva nossas promessas, aquelas que cumprimos e que não valem nada mais agora que você quebrou a principal. Eu juro que não faço escândalo, não te bato, não te jogo nada nem falo por aí sobre você e o que você deixou: mas vê se leva tudo, ok?



Junta tudo numa mão e embola na sua mala pequena. Leva aquela música que era nossa, aquela que eu dei pra você, pra que eu consiga ouvi-la outra vez sem derramar nenhuma lágrima. Leva a banda que você me apresentou, deixa que eu a conheça por outras pessoas, para que as letras não sejam contaminadas por você. Leva a rima que eu te dei, os batons que gastei com você, as roupas que me deu de presente e as que eu comprei porque você me achava bonita nelas. Leva os “eu te amos” que trocamos. Leva minha dor junto, tá bem? Por tudo o que a gente viveu, pelos bons momentos, vai embora e carrega junto a dor de ter acabado. Vai, e leva os sorrisos que dividimos porque aí não preciso chorar as lágrimas pelo final. Leva os sonhos que sonhamos juntos e que não tivemos tempo pra realizar, aliás, leva também o tempo porque dizem que quando ele passar vai parar de doer. Leva o tempo, o relógio, a sua ausência e a minha saudade. Leva você daqui, mas vê se se leva inteiro, sem deixar pedaços escondidos perdidos abandonados esperando a chance pra ocupar a casa novamente e ocupar minh’alma de saudades suas numa manhã qualquer ou numa noite fria de inverno. Já que você quer ir, então vai. Parte. Mas não me parte, ok?

Junta tudo o que é seu e tudo aquilo que foi nosso, por favor. Junta as tralhas e junta os restos. Junta os cacos e o que permaneceu inteiro. Leva meu amor daqui. Leva meu desespero, minha agonia, minha tristeza, minha dor. Vai embora, se quiser ir, mas não se deixe pra trás, não me deixe pra trás ansiando a sua volta. Vai e vê se não deixa a porta aberta. Leva a chave com você, que aí eu troco a fechadura. Não quero que roubem o que sobrar, nem baguncem ainda mais a casa e minha vida que vai estar sem você. Já que você se decidiu por ir, vai, então, eu não te impeço, não faço um show, não te arranco a pele e também nem seu coração. Pode ir. Mas será que você pode levar o meu próprio coração? 

Vai embora e se leva de mim. E, se não for pedir muito, por favor, te peço: vai, mas, dessa vez, vê se me leva junto.