terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sobre Tudo Aquilo Que Não Foi Feito Pra Ver



-Mas, afinal, o que é que você viu nele?

(Vi um sorriso torto que talvez ninguém mais tenha reparado, desses de canto que sempre dizem mais do que qualquer outro. Um sorriso sincero que quando ele está realmente feliz ganha o rosto todo fazendo com que ele tenha que fechar os olhos. Um sorriso que ele aprendeu a dar só a mim quando me vê chegando, quando me vê o abraçando e, principalmente, aquele sorriso que deixa escapar quando eu mordo seu queixo bem devagar. Vi uns olhares, moça, que talvez você tenha que procurar por uma vida pra achar; um desses olhares que a gente vê sempre em filme e fica rezando pra um dia encontrar na nossa rua. Sabe do que eu tô falando? Tô falando daquelas encaradas que dizem mais do que ele seria capaz de dizer mesmo que fosse um Machado de Assis, um Caio Fernando Abreu, um Shakespeare da nova geração. Que se dane que ele não é bom com palavras. Quem é que se importa com elas quando te olham daquele jeito? 

Com o olhar ele diz que gosta, que não gosta, que eu passei dos limites, mas que mesmo assim ele se diverte. Com o olhar ele me adverte em silêncio. Com o olhar ele me avisa que tem ciúmes, e esse talvez seja seu olhar mais divertido, e o pior que já tenha me dado. Ele diz que tem medo de me perder só com o olhar, moça. Com o olhar ele se apaixona, sorri também, me faz carinho e me encara como se eu fosse única. E quer saber? Eu me sinto realmente única quando ele me olha daquele jeito. Ele nunca daria aquele olhar pra qualquer uma. Diz coisas demais que ele nem sabe como poderia me dizer. Moça, vi um cara que ficava bem de blusa verde que combinava com seus olhos que combinou tanto comigo.

Vi uma alma bonita, moça, dessas que não se acham por aí vendendo barato ou em liquidação.  Uma dessas raridades que quando a gente acha quer esconder do mundo pra ver se ninguém rouba de você. Vi um coração que não teve medo dos meus medos, um coração meio bagunçado que ele permitiu que eu arrumasse do meu jeito, por mais torta que eu seja. Tô pintando tudo de novo pra morar pra sempre ali dentro, se ele deixar, moça, eu nunca mais saio dali. Você, por um acaso, já viu o jeito com que ele me abraça? Como ele me puxa pra ele como se estivesse segurando todo o mundo que ele sempre procurou? Já reparou em como ele me deixa afundar a cabeça no seu pescoço, deitar no seu ombro, me encolher em seu colo como se eu fosse a coisa mais rara que precisa ser protegida a todo momento? Você já viu como ele me protege do mundo me envolvendo daquele jeito, moça? E como ele próprio afunda seu rosto no meu pescoço só pra me trazer ainda mais pra perto do que toda a lei da física que estudamos ensinou? Vi ali um amor que procurei o tempo todo entre linhas tortas e imaginação fértil que nutri a vida toda lendo e me apaixonando por histórias dos outros e nunca pelas minhas. Sabe? Vi verdade no que ele sentia. Vi coragem no que ele dizia sentir. Vi e senti um beijo que procurei muito por aí em outras bocas até me perder na dele.

Um beijo que fosse capaz de me tirar do chão, de bagunçar meu mundo, de me colocar do avesso e ainda assim me fazer gostar disso. Um beijo que me fizesse parar de pensar só por uns instantes em procurar o cara dos meus sonhos, dentre tantos platônicos, e viver um amor de verdade. Vi ele fechar os olhos e se jogar nessa história como provavelmente nunca fez na vida. Você acha que fechar os olhos é fácil, moça? Fechar os olhos com alguém significa que você confia tanto nela que não se importa em ver o que está ao redor. Ele confia em mim. Confio nele também, moça.

Vi uma chance de ser feliz. E quando a gente vê a felicidade bem perto e fecha a porta, por melhor que seja o motivo, tá cometendo sem saber o maior erro da sua vida. Vi a gente num futuro com filhos que sempre quis ter. Vi umas brigas também, fazer o quê. Mas vi amor. Vi coisas que as câmeras fotográficas por melhor lente que tenham jamais vão conseguir registar. Vi coisas que palavra alguma poderia ser o bastante para te fazer entender. E tudo bem, não me importa nem um pouco, moça, que você não entenda, nem quero me fazer me entender pra você. Porque tem coisas, moça, tem coisas que certamente não são pra ver, pra escrever, pra ler ou pra convencer. São para sentir. E ainda que ali eu tenha visto uma beleza rara que talvez ninguém mais veja, senti coisas que outros caras nunca me fizeram sentir. E pela primeira vez também não tive medo de deixar a coisa acontecer, nem vontade de fugir...)

-Ah, deixa pra lá. Você nunca iria entender o que foi que eu vi.

4 comentários:

  1. E é tão bom quando conseguimos ver assim!!

    Parabéns, mas um texto inspirador...

    ResponderExcluir
  2. Nossa, isso me deixou completamente emocionada (e apaixonada por essas palavras, mesmo que algumas coisas não possam ser ditas).
    Marcelle Monteiro

    ResponderExcluir
  3. Suas palavras tem o dom de me emocionar. Texto lindo.

    ResponderExcluir
  4. Ai, gente, que texto mais LINDO *-* Muito inspirador! Fiquei aqui sorrindo feito uma idiota em cada parágrafo, haha! Sério, seus textos são incríveis! Amei demais!

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

    ResponderExcluir

Comentários

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe