sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Conversas de Portas Fechadas


E aí? Como é que cê tá? Cê tá bem? Cê tá se cuidando? Foi no médico ver essa sua dor de cabeça que não passa, comprou os remédios que estavam acabando quando eu saí da sua casa? Como é que é? Limpou tudo que eu deixei pra trás e me limpou de lá também? Desculpa te atrapalhar assim. Bateu curiosidade. Bateu saudade mesmo. É que às vezes sinto falta sabe? Cê num sente? Sei lá, de ficar à toa vendo um filme besta e comentando coisas desnecessárias durante as cenas sem cabimento? Ser sem cabimento, você não sente? De ter alguém que te roda no ar no meio da rua só pra ver seu cabelo bagunçado? Cê num sente falta de ter alguém que batucava nas suas costas uma música que você não conhecia? Só pra você olhar daquele jeito de para-com-isso-agora-que-não-sou-bateria? Hein?

Mas vem cá. Chega aqui. Pelos velhos tempos. Já faz tempo que quero te falar, te dizer umas coisas que não disse, que preferi guardar dentro da mala junto com as roupas que levei. Eu te amei, sabia? Mesmo, muito. Eu achei que a gente ia ser pra sempre. Pobre de mim. Vi você, tive você e achei que poderia contrariar a lei da vida e sermos eternos. Eu realmente acreditei nisso. Não menti pra você. Não menti hora nenhuma. Tanto que quando vi que tava começando a virar mentira eu fugi. Eu fugi, amor, que era pra não magoar você. Me desculpa se te magoei mesmo assim. É que você é tão linda e foi tão minha. Parecia errado fingir que ainda te amava quando esse amor já havia me abandonado. Não me leve a mal. Não me leve a bem também. Não me leve a lugar algum. Só senta aqui e vamos conversar. Tenho tanta coisa pra te contar, cê sabe? Aposto que você tem muita coisa pra me dizer também.

Chega perto. Eu não mordo. Cê ainda gosta de mordidas? Eu conheci outros corpos durante a estrada, capotei em alguns, sabe como é. Nem um deles era o seu. Nem um deles era como o seu. É estranho isso, sabe? Não te amar mais e mesmo assim te querer perto, te querer aqui, te levar comigo e me deixar ser carregado por você mesmo sem você saber. Cê sabe que eu penso muito em você, ainda? Mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de tudo. Me pego na cama olhando pro teto e imaginando o que você tá fazendo, com quem tá indo dormir ou se prefere ficar na sua imensa solidão. Alguém já conseguiu vencer os silêncios agoniantes que mergulha quando não quer responder? Sei lá? Você conseguiu vencer essa sua barreira? Aqueles silêncios me dava no nervo. Você me dava no nervo. Cê sabe. Te  disse muitas vezes que queria te ouvir. Eu sei, seus silêncios gritavam tanto que eu fiquei surdo.

Sabe, queria te explicar porque eu fui embora. Dizer que foi por causa de outra loira gostosa ou morena inteligente ou ruiva exótica. Mas não tinha ninguém. Ah, você ainda me olha desse jeito quando não acredita no que eu tô dizendo. Você não mudou tanto assim, desde nossa última conversa. Arrisca um sorriso de tanto-faz-eu-não-ligo quando, na verdade, você liga sim. Sempre se fazendo de forte, né? Sempre metida a pode-vir-que-não-me-machuca. Mas eu te machuquei. Sei disso porque sinto essas feridas em mim também. Me machuquei ao desistir de você, ao desistir da gente, ao pegar as coisas e ir embora no meio da madrugada quando ainda queria ficar e te dar um beijo de bom dia, fazer um café especial, explicar o que tava acontecendo dentro de mim e fora também. Mas fui covarde e preferi fugir. Porque fugir parecia tão certo naquela hora, sabe? Porque achei que assim iria te doer menos, você me odiaria mais e poderia seguir em frente mais facilmente.

Cê me odiou mesmo, né? Do lado de cá, eu te garanto, eu só te desejei o bem. Não prometo porque sei que minhas promessas já não fazem mais sentido pra você, porque quebrei a mais importante, a de que éramos para sempre, indo embora. Mas sabe, amor? Sim, eu ainda te chamo de amor, às vezes cito você como minha linda, sonho contigo quase todas as noites e acordo pensando em você. É estranho, eu sei. Nem eu entendo e não quero que você entenda também. Sei lá, só queria te dizer que a gente foi amor sim. Mesmo tendo acabado. E a gente foi pra sempre também. Não, não é piada de humor negro ou coisa assim. Sei lá, é que depois que te perdi eu percebi que o para sempre não é aquilo que sempre acaba não, como dito naquela música que você cantava sempre, mal sabendo a verdade que era, ainda acreditando que éramos diferentes. Não há diferenças no para sempre. Fomos para sempre sim, sabe? Em nosso intervalo de tempo, em nosso pequeno infinito, fomos para sempre. O para sempre não acaba mesmo com um fim. Te levo para sempre aqui –nas músicas, nos gostos, nos vícios que você me trouxe, na verborragia que desembesto quando alguém cita seu nome e começo a fazer mil perguntas pra ver se você tá bem, nos silêncios quando descubro o que não quero e nas minhas fugas em outras curvas que não são suas, que não pertencem a nossa estrada. Sei que você me leva para sempre também, no coração partido que eu te deixei, nas marcas que não tem como se apagar, naquele porta-retrato que você não tirou da cabeceira da cama e nos livros que te presenteei que eu sei que você não queimou (mesmo que você tenha tido vontade). Ainda penso que te conheço como ninguém. Ainda acho que você é capaz de saber o que tô pensando só de me olhar.

Tenho pensado muito em você.

E em nós. E em nosso fim. E sei lá, não me ache meio maluco apesar deu ser, só queria saber se cê tá bem, se cê tá feliz, se tem conseguido ir em frente e me deixar pra trás. Só quero saber se cê tá de pé, se tá comendo, se tá amando, se tá me esquecendo. Cê tá? Pode ser sincera, juro que não vou me importar. Mentira, não juro não. Mas diz pra mim que eu só quero tirar essa dúvida que tá me corroendo a noite e roubando meu sono. Cê tá se cuidando, amor? Cê tá se cuidando como eu prometi te cuidar e não cuidei? Cê tá se amando como eu não consegui te amar? E me esquecendo como eu disse que esqueci você?


Como cê tá, meu bem? Será que você ainda pode me contar?

3 comentários:

  1. Nunca chorei tanto com um texto. Muito lindo, parabéns!
    beijos, isabela

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  2. Nossa terminei de ler esse texto com lagrimas nos olhos, muito lindo. Ta de parabens viu? Você escreve muito. Amo textos que podem me emocionar.

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  3. Terminei um noivado fazem 3 meses e to até agora tentando me livrar do baque. Enquanto escrevo o comentário to chorando, pra vc ter noção. O texto falou tudo, tudo mesmo. Muito obrigada.
    Beijos
    www.hicultura.com

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Comentários

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