E aí? Como é que cê tá? Cê tá bem? Cê tá se cuidando? Foi no
médico ver essa sua dor de cabeça que não passa, comprou os remédios que
estavam acabando quando eu saí da sua casa? Como é que é? Limpou tudo que eu
deixei pra trás e me limpou de lá também? Desculpa te atrapalhar assim. Bateu
curiosidade. Bateu saudade mesmo. É que às vezes sinto falta sabe? Cê num
sente? Sei lá, de ficar à toa vendo um filme besta e comentando coisas
desnecessárias durante as cenas sem cabimento? Ser sem cabimento, você não sente?
De ter alguém que te roda no ar no meio da rua só pra ver seu cabelo bagunçado?
Cê num sente falta de ter alguém que batucava nas suas costas uma música que você
não conhecia? Só pra você olhar daquele jeito de para-com-isso-agora-que-não-sou-bateria?
Hein?
Mas vem cá. Chega aqui. Pelos velhos tempos. Já faz tempo
que quero te falar, te dizer umas coisas que não disse, que preferi guardar
dentro da mala junto com as roupas que levei. Eu te amei, sabia? Mesmo, muito.
Eu achei que a gente ia ser pra sempre. Pobre de mim. Vi você, tive você e
achei que poderia contrariar a lei da vida e sermos eternos. Eu realmente
acreditei nisso. Não menti pra você. Não menti hora nenhuma. Tanto que quando
vi que tava começando a virar mentira eu fugi. Eu fugi, amor, que era pra não magoar
você. Me desculpa se te magoei mesmo assim. É que você é tão linda e foi tão
minha. Parecia errado fingir que ainda te amava quando esse amor já havia me
abandonado. Não me leve a mal. Não me leve a bem também. Não me leve a lugar
algum. Só senta aqui e vamos conversar. Tenho tanta coisa pra te contar, cê
sabe? Aposto que você tem muita coisa pra me dizer também.
Chega perto. Eu não mordo. Cê ainda gosta de mordidas? Eu
conheci outros corpos durante a estrada, capotei em alguns, sabe como é. Nem um
deles era o seu. Nem um deles era como o seu. É estranho isso, sabe? Não te
amar mais e mesmo assim te querer perto, te querer aqui, te levar comigo e me
deixar ser carregado por você mesmo sem você saber. Cê sabe que eu penso muito
em você, ainda? Mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de tudo. Me pego na
cama olhando pro teto e imaginando o que você tá fazendo, com quem tá indo
dormir ou se prefere ficar na sua imensa solidão. Alguém já conseguiu vencer os
silêncios agoniantes que mergulha quando não quer responder? Sei lá? Você
conseguiu vencer essa sua barreira? Aqueles silêncios me dava no nervo. Você me
dava no nervo. Cê sabe. Te disse muitas
vezes que queria te ouvir. Eu sei, seus silêncios gritavam tanto que eu fiquei
surdo.
Sabe, queria te explicar porque eu fui embora. Dizer que foi
por causa de outra loira gostosa ou morena inteligente ou ruiva exótica. Mas não
tinha ninguém. Ah, você ainda me olha desse jeito quando não acredita no que eu
tô dizendo. Você não mudou tanto assim, desde nossa última conversa. Arrisca um
sorriso de tanto-faz-eu-não-ligo quando, na verdade, você liga sim. Sempre se
fazendo de forte, né? Sempre metida a pode-vir-que-não-me-machuca. Mas eu te machuquei.
Sei disso porque sinto essas feridas em mim também. Me machuquei ao desistir de
você, ao desistir da gente, ao pegar as coisas e ir embora no meio da madrugada
quando ainda queria ficar e te dar um beijo de bom dia, fazer um café especial,
explicar o que tava acontecendo dentro de mim e fora também. Mas fui covarde e
preferi fugir. Porque fugir parecia tão certo naquela hora, sabe? Porque achei
que assim iria te doer menos, você me odiaria mais e poderia seguir em frente
mais facilmente.
Cê me odiou mesmo, né? Do lado de cá, eu te garanto, eu só
te desejei o bem. Não prometo porque sei que minhas promessas já não fazem mais
sentido pra você, porque quebrei a mais importante, a de que éramos para
sempre, indo embora. Mas sabe, amor? Sim, eu ainda te chamo de amor, às vezes
cito você como minha linda, sonho contigo quase todas as noites e acordo
pensando em você. É estranho, eu sei. Nem eu entendo e não quero que você entenda
também. Sei lá, só queria te dizer que a gente foi amor sim. Mesmo tendo
acabado. E a gente foi pra sempre também. Não, não é piada de humor negro ou
coisa assim. Sei lá, é que depois que te perdi eu percebi que o para sempre não
é aquilo que sempre acaba não, como dito naquela música que você cantava
sempre, mal sabendo a verdade que era, ainda acreditando que éramos diferentes.
Não há diferenças no para sempre. Fomos para sempre sim, sabe? Em nosso
intervalo de tempo, em nosso pequeno infinito, fomos para sempre. O para sempre
não acaba mesmo com um fim. Te levo para sempre aqui –nas músicas, nos gostos,
nos vícios que você me trouxe, na verborragia que desembesto quando alguém cita
seu nome e começo a fazer mil perguntas pra ver se você tá bem, nos silêncios
quando descubro o que não quero e nas minhas fugas em outras curvas que não são
suas, que não pertencem a nossa estrada. Sei que você me leva para sempre
também, no coração partido que eu te deixei, nas marcas que não tem como se
apagar, naquele porta-retrato que você não tirou da cabeceira da cama e nos
livros que te presenteei que eu sei que você não queimou (mesmo que você tenha
tido vontade). Ainda penso que te conheço como ninguém. Ainda acho que você é
capaz de saber o que tô pensando só de me olhar.
Tenho pensado muito em você.
E em nós. E em nosso fim. E sei lá, não me ache meio maluco
apesar deu ser, só queria saber se cê tá bem, se cê tá feliz, se tem conseguido
ir em frente e me deixar pra trás. Só quero saber se cê tá de pé, se tá
comendo, se tá amando, se tá me esquecendo. Cê tá? Pode ser sincera, juro que não
vou me importar. Mentira, não juro não. Mas diz pra mim que eu só quero tirar
essa dúvida que tá me corroendo a noite e roubando meu sono. Cê tá se cuidando,
amor? Cê tá se cuidando como eu prometi te cuidar e não cuidei? Cê tá se amando
como eu não consegui te amar? E me esquecendo como eu disse que esqueci você?
Como cê tá, meu bem? Será que você ainda pode me contar?
Nunca chorei tanto com um texto. Muito lindo, parabéns!
ResponderExcluirbeijos, isabela
Nossa terminei de ler esse texto com lagrimas nos olhos, muito lindo. Ta de parabens viu? Você escreve muito. Amo textos que podem me emocionar.
ResponderExcluirTerminei um noivado fazem 3 meses e to até agora tentando me livrar do baque. Enquanto escrevo o comentário to chorando, pra vc ter noção. O texto falou tudo, tudo mesmo. Muito obrigada.
ResponderExcluirBeijos
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