Todo mundo tem um livro que marcou, que mudou o modo de
pensar, que te provocou e te moveu um pouquinho pra frente –ou para trás, tanto
faz –Todo mundo teve aquele livro que por vírgulas, pontos, parênteses não colocados,
te deixou assim, meio que de cabeça para baixo. Eu tive vários. E hoje resolvi
que ia compartilhar os dez livros que mais me mudaram desde que comecei essa
minha vida de bookholic, e que, de um certo modo, me fez melhorar na escrita e
chegar nesse nível que tô hoje –bem longe do nível que eu adoraria estar, mas
bem melhor do que quando comecei, acreditem, dez anos atrás. Esses livros são queridinhos meus, então, tenham muito amor para ler essa minha lista.
Foi por aqui que eu comecei a ler, saindo dos contos de
fadas e das histórias infantis. A coleção de Pedro Bandeira (A Droga da
Obediência, Pântano de Sangue, Anjo da Morte, A Droga do Amor teve um outro que
eu não cheguei a ler, chamado Droga de Americana também ), foi o que meus olhos
primeiro acharam na biblioteca pequena da escola pública que eu estudava, lá
com meus onze anos. Os cinco amigos formam um grupo chamado Karas, em que
tentam descobrir tramas policiais ajudando a resolver difíceis mistérios. A
linguagem rápida, simples e direta de Pedro Bandeira me encantou logo de cara,
e apesar de ter ficado um pouco frustrada com o pseudo-romance que nunca
aconteceu, eu sempre indico a leitura praqueles que, como eu, ama um bom e
velho romance-policial.
2-
Assassinato No Expresso Oriente –Agatha Christie
A dama do mistério obviamente não poderia ficar de fora
dessa lista. Depois de ser conhecida pelo nome, sobrenome, e sala pela
bibliotecária da escola, ela também já estava de olho no meu gosto de leitura
então se sentiu a vontade pra me indicar mais livros no estilo, apontando pra
uma prateleira escondida que só tinha romances policiais. Ali, aos doze,
conheci Agatha Christie que veio a se tornar uma das minhas escritoras
preferidas. Com ela eu aprendi que um bom mistério é sempre bem vindo e que uma
cena bem descrita faz toda a diferença se você quer um final de tirar o fôlego.
Assassinato no Expresso Oriente é, para mim, um dos melhores livros que já li
dela (porque acreditem, não li nem metade do que ela publicou) e sempre indico
porque foi lendo essa mulher que comecei a rabiscar meus primeiros manuscritos, que,
ironicamente, era de romance policial. Mas eu não era boa nisso, então vamos
deixar que Agatha Christie continue apenas me encantando, como faz com
maestria, enquanto eu me recolho a minha insignificância.
3-
O Estranho No Espelho –Sidney Sheldon
O meu primeiro contato com Sheldon foi incentivado pelo meu
pai, que é fã indubitável desse cara. Por ironia do destino, com apenas doze
anos, peguei o livro mais ~tenso~ dele, com relação a sexo e cenas explicitas. Então,
de cara, eu fiz careta e abandonei Sheldon por muito tempo, até dar uma outra
chance a ele anos depois, já com meus quinze, relendo o mesmo livro que um
certo dia me assustou tanto. Para mim, que amo finais bem escritos, Sheldon é
quase imbatível nesse quesito. Não houve um só livro que descobri como
terminaria realmente, mesmo tendo a péssima mania de folear as últimas páginas.
E as construções das suas personagens, sempre muito bem descritas, é de dar
inveja a qualquer aspirante a escritor e a fazer qualquer leitor se sentir
íntimo de criaturas que, você sabe, não existe –mas adoraria conhecer na
próxima esquina.
4-
A Mulher Só –Harold Robbins
Outra leitura indicada pelo meu pai. Já deu para perceber
que se hoje eu devoro tanto livro isso é em grande parte culpa dele, né? Foi ele
que me apresentou os melhores livros e também me apresentou esse, que é, sem
dúvida, um dos melhores livros que já li. Peguei nele aos quinze e só agora
consegui acha-lo perdido num sebo (que claro corri logo pra levar pra casa, que
não sou boba né?!). Nesse romance, Harold fala de uma mulher que veio muito a
frente de seu tempo, parecida que nasceu um ou dois séculos antes. Jere-Lee é
perturbadora porque quer tanto ser alguém na vida que abandona tudo que mais
ama e se enfia em loucuras sexuais e em drogas sem se dar conta, até que
percebe que a fama e o dinheiro e os amigos conquistados podem ir embora quando
se mais precisa. No final, ela só queria ser uma grande escritora... Acho que
rolou identificação com essa parte, pode ser. Mas Harold faz com que a gente
ame e odeie a personagem com uma maestria que poucos autores conseguem ter. Pode até ser da década de setenta, mas em
tempos de feminismo, ele continua bastante atual. Para as mulheres e para os
homens, vai por mim.
5-
Dom Casmurro –Machado de Assis
Desfaça a cara que provavelmente você fez. Um clássico sim,
por que não? Para mim Dom Casmurro é nossa maior preciosidade nacional. E ai de
quem discorda! Bentinho e sua insegurança quase doentia destroem um amor que
poderia ter sido imortal. Ou talvez seja Capitu e seus olhos de ressaca, vai
saber. A gente nunca vai realmente descobrir. E talvez isso que faz o livro
ainda estar vivo por aí, mais até do que a maioria dos grandes clássicos,
porque até hoje a gente se depara com pessoas discutindo se Capitu traiu ou não
Bentinho. Na minha opinião? Não sei se ela traiu, mas se traiu foi bem
merecido. Ele era um verdadeiro casmurro, convenhamos... E Machado de Assis um
verdadeiro mestre.
6-
Morangos Mofados –Caio Fernando Abreu
É claro, óbvio, sem dúvida, como vocês pensaram que não, que
Caio estaria nessa lista. Só não está lá em cima porque tô seguindo a ordem cronológica
das minhas leituras e descobertas. A crítica diz que esse é o melhor livro de
Caio, aquele que era viciado em café e adorava dizer que deveríamos tomar, já
que o mundo acabou faz tempo. Já li esse livro quatro vezes e eu não sou adepta
a releituras, então, concluam. Além disso, a cada leitura eu enxergo com um
novo olhar. Para mim, o maior nome de nossa contracultura, com Caio eu aprendi
a essência da licença poética, a arte de pular vírgulas e pontos e emendar
frases pra ficar no ritmo de um coração batendo, de um blues antigo ou de uma
última respiração na vida. Caio é meu mestre, meu ídolo, meu amor. Escreveu temas
polêmicos numa época que isso era quase morte, falou sobre homossexualismo,
preconceito, dúvidas, incertezas e mordeu um morango mofado sem medo de passar
mal. Caio sabia que escrever era como vomitar. E ele nunca teve nojo de colocar
pra fora o que engolia da sociedade em que vivia. Caio é inenarrável! E só quem
lê entende a essência desse grande autor brasileiro!
7-
Fora de Mim –Martha Medeiros
Ninguém duvida de Martha como cronista –ela arrasa –Todo mundo
sabe que é uma ótima poetisa. E quase todos já foram assistir no cinema ou em
casa mesmo o filme Divã, baseada na sua obra mais famosa, certo? Pois é. Para mim
Martha é disparado nossa melhor autora contemporânea, provocativa e clara no
que diz, quase cristalina. Em Fora de Mim ela narra a história de uma
personagem –sem nome –que está dando adeus ao grande amor da sua vida –também sem
nome –ao perceber que apesar do amor ainda existir, a paixão acabou e era hora
de seguir em frente. Dividido em três partes, ela começa pelo fim, depois para
o meio, para só então a gente entender a essência do falecimento de uma relação
que tinha tudo para ter dado certo (e não deu). Nesse livro, eu aprendi que a identificação
com o personagem e com a história não está, de forma alguma, ligada a nome e
sobrenome, mas sim no modo como ela é transmitida e no ponto do coração que ela
atinge. Em Fora de Mim é impossível não morrer de raiva, de amor e de chorar
quando a gente chega ao fim.
8-
O Médico e O Monstro –Robert L. Stevenson
Apesar de antigo, a linguagem do livro é tão fácil que
parece ter sido escrita ontem, e que o autor está contando o caso para você,
bem na sua frente, sem precisar de nenhum outro método além da sua fala. Isso foi
o que mais me causou efeito, de primeiro. Depois, a história. Dr, Jekyl é um
médico honesto, humano, virtuoso, tão bom que ninguém jamais duvidaria que ele
cria uma fórmula para se transmutar em outra pessoa, tentando dividir sua face
boa e sua face má, como se divide uma maçã ao meio. É assim que aparece Mr.
Hyde, cruel, sua materialização da natureza perversa do bom doutor Jekyl, escondido
num perfil quase santo. O livro é curto e mostra em poucas páginas como somos
bons e maus ao mesmo tempo, dúbios em maioria dos casos. Não se engane com a
narrativa simples, o livro também é uma forte crítica à Londres da época. E também
inspirado numa história real, de um caso de bipolaridade, de um marceneiro de
Edimburgo, o Willian Brondie que era apenas um trabalhador comum e sossegado de
dia, mas que a noite assaltava as residências dos moradores da cidade. A leitura
de fácil compreensão alcança a grande massa mesmo falando de temas complexos
como o inconsciente. Vale a leitura, vai por mim!
9-
O Escritor e Seus Fantasmas -Ernesto Sabato
Uma leitura latino-americana para você que, muito provavelmente, nem sabe como nossos países vizinhos são ricos nesse quesito. Ok, posso ter sido preconceituosa, mas é meio triste para mim saber como os latinos são bons em literatura e a gente parece tão, mas tão atrasado em relação a eles. Sabem? Nesse livro Sabato escreve quase um diário sobre os dramas, as delícias poucas, mas principalmente as feridas dessa profissão nem sempre tão bem vista. Ele narra como construir histórias bem feitas e personagens, mas, principalmente, faz a gente se entender como leitor/escritor e perceber que os fantasmas que a gente tem são os mesmos de grandes autores, como Sabato. Vale a leitura, tanto pra quem escreve quanto para quem lê, e quer entender nossa mente doentia.
10-
Água Viva –Clarice Lispector
Fechando a lista com chave de ouro, apresento a vocês Clarice.
Não a Clarice do Fantástico, com seu outro nome que usava para ganhar a vida,
nem essa Clarice vendida pelas redes sociais e tão banalizadas. Mas a Clarice
complexa, a Clarice escritora que crava a unha na personagem tirando-lhe o
sangue tão devagar que deixa o leitor com náusea. Meu primeiro contato com
Lispector foi há muito tempo, quando vi um curta de A Hora da Estrela –supostamente
um de seus melhores livros segundo a crítica –e então eu deixei ela esquecida
no canto até me sentir madura o suficiente para lê-la. Confesso: ler Clarice não
é fácil. Em Água Viva a personagem, sem nome, escreve uma carta para um amor,
também sem nome, que a gente não sabe bem se partiu ou se nunca chegou, sobre
um drama, um fim, uma rotina sem graça sem esse outro que tanto a deixa
transtornada. Parei em algumas partes, reli vários parágrafos, devorei o livro
de leitura difícil em poucos dias e terminei com um soco no estômago de: é
isso. Clarice é mais do que as frases que vocês leem e que, em sua maioria, nem
são dela. E exige mais do que muito leitor quer oferecer a um livro. Mas te
conto um segredo: como vale a pena terminar um livro dessa mulher e entender o
que é, em suma, uma obra de literatura que merece mais do que aplausos, como
também o silêncio inquietante de alguém que se sente invadido pela escritora lá
no fundo da sua alma.
Esses foram os livros que me marcaram. Claro que eu poderia
falar de muitos outros, eu nem coloquei Giffin nessa lista, pasmem. Mas esses
foram o que me fizeram, de certo modo, enxergar a escrita e a literatura com um
olhar muito mais crítico. Assim como a vida e tudo ao redor. E vocês? Que livros
você recomendaria, que mudou seu modo de pensar e que você adoraria
compartilhar com outras pessoas? Eu adoro saber o que vocês leem para conhecer também
e pode apostar, não conheço nem metade do acervo que adoraria conhecer!
Pra quem quiser acompanhar essa minha vida de leitora, eu
ando lá na rede social do Skoob também. Já sei, eu aposto que cê ensaiou um:
mas que rede social essa menina não tem? Difícil responder... E nem respondo.
Só me adicionem lá, que eu vou adorar!
Estou lendo Dom Casmurro agora, ele é muito gracinha *---*
ResponderExcluirTeve um livro da Meg Cabot que foi muito, muito importante por mim, já escrevi sobre ele lá no meu blog ( http://blogdiariodeumagarotaquesonha.blogspot.com.br/2013/10/o-livro-que-mudou-minha-vida.html ) ...
Meg é demais, amo os livros dela
Excluirmas esse em especial nunca tinha lido
colocando na pilha pra ontem*************
Ele um pouco mais adulto do que os outros dela que eu costumo ler... E é muito bom ^^
ExcluirEntendi
Excluireu gosto mais dos livros que ela assina como Patrícia
amoh livros de época, aliás hahahahahaha