terça-feira, 22 de julho de 2014

Me Deixa (Viver Você)




Se tem uma coisa sobre mim que eu nunca escondi é que tenho pavor a coisa mais ou menos. Sou intensa e transbordada, mas isso, num mundo onde relações de pronto-entrega são maiorias, não é muito bom pra um coração que cria expectativa a cada oi, sorriso, convite feito e aquele te ligo amanhã que promete tanta coisa que, nós, mulheres, sabemos, nem sempre acontece. Eu, no alto dos meus 1,63, sem piadinha, odeio relações mornas ou que me acomodam –gosto de ser incomodada, tirada do lugar, somada com um mundo de coisas que só um alguém disposto a entrar sem precisar mostrar um cheque de entrada ou uma garantia boa pode me oferecer.

Antes de permitir a entrada de qualquer pessoa na minha vida, eu sempre me pergunto se há sentimento o suficiente para bancar uma relação de verdade (da minha parte e da parte de outro também). E não falo isso só para os relacionamentos amorosos, como também para todos os outros que a gente coleciona pelo caminho. Na minha vida, só permito a estadia de quem eu gosto muito, me importo muito, quero muito, vivo muito. Se a resposta dessa pergunta simples for um pouco parecida com “gosto o bastante” eu já não quero manter contato. O que me basta, não me transborda. E para mim, transbordada por tudo e todos, o que não me transborda não é de verdade.

E se não for de verdade, me desculpa, eu não quero. Pode parecer coisa de menina mimada –e eu sou mesmo, não nego –mas não consigo me envolver com uma pessoa se não tiver a plena certeza de que essa pessoa se envolverá comigo também. Gosto de entender cada nuance, detalhe, coisas não ditas e entrelinhas não explicadas de cada pessoa que tenho em minha vida e, se a pessoa está comigo apenas porque não quer ficar sozinha, ela nunca vai me permitir que eu invada sua privacidade assim, até conhecer a bagunça da sua casa que ela não vai arrumar mesmo que eu vá visita-la, os monstros que ela esconde debaixo da cama ou dentro dela, os papéis avulsos de histórias sem sentido que perdeu a coerência no meio do caminho que a gente esconde no fundo da gaveta esperando uma outra chance de salvar ao menos um capítulo.

Não, eu não sou oito e oitenta. Tão intensa que não posso estar em um ou em outro: sou tudo. Sou todos os números inteiros e fracionados; o nove, o dez, o onze, o setenta e oito, o setenta e nove vírgula nove nove nove nove nove. Quero tudo e não apenas uma aliança nos dedos e não alguém que eu até possa contar se estiver vestindo uma máscara, mas sim alguém que não tenha medo de chegar perto e ver todas as minhas feridas, cicatrizes, machucados que nunca sararam e minhas neuroses muito bem disfarçadas com sorrisos amarelos e um vago brilho no olhar. Não gosto de meios termos, meias palavras, meias dores e meias entregas. Por tudo isso, nunca me meio-entreguei a ninguém. Quando quero alguém pra minha vida deixo claro e legível bem na porta de entrada: se vier, por favor, venha pra ser todo meu.

Algumas pessoas compram a ideia e depois me abandonam no caminho –não faz mal, eu prefiro a sinceridade de uma despedida do que uma presença ausente de quem só tem a obrigação de estar ali porque um dia prometeu que ficaria ali (feito enfeite de estante, sabem? Que só servem pra ocupar espaço e pegar poeira). Outras nem entram e essas também tem meu respeito. Umas bem poucas vieram e ficaram e permaneceram e compraram tão bem a ideia que a gente se entende com uma troca de olhar ou no tipo de “oi” que a gente se dá numa manhã fria e sem novidades de uma quarta-feira.

Na minha vida não tem espaço e eu não ofereço espaço pra quem não vai me oferecer nada em troca da estadia e da proteção que eu tento oferecer. E aqui não falo apenas de namoros, mas toda relação que faço na minha caminhada. Se não soma, some. Mas não me diminua, não me iguale, não me transforme numa equação sempre constante em linha reta que não vai me levar a lugar algum. Não quero ir ao céu ou ao inferno, mas não ligo de ir a ambos, se você aguentar me levar. Carrego meus pesos e os seus, prometo. Mas só venha se for pra ser todo meu.

Ficar sozinha não é opção, mas se relacionar com os outros com toda certeza é. A gente escolhe o que vamos doar a quem estamos chamando pra nossa vida, o que podemos oferecer e que parte nossa aquela pessoa possuirá. A gente que escolhe se escancara as portas ou se apenas abre uma gretinha pra pessoa não trazer com ela o inverno que carrega e congele nossa alma das decepções que tenta suportar. Quem dá a temperatura da relação é a gente. E, veja bem, não tô dizendo que relações mornas são ruins; mas na minha vida quero quem tope as regras da minha vida ou que pelo menos tenha mais ou menos as regras parecidas (apesar de pontos de vistas tão gigantemente diferentes). É por isso que não te convido a entrar na minha casa se você não for se sentir confortável o bastante para abrir a geladeira e se servir quando bater a fome ou se esparramar no sofá sem pedir licença ou ficar com falsas vergonhas.

E, por favor, a única coisa que eu tô pedindo é que não me chame pra sua vida se você não vai me dar a chance de viver intensamente e verdadeiramente você e tudo aquilo que você tem a me oferecer.

Crônica postada em Abraçando Elefantes, no dia 18 de julho de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe