Esse texto foi escolhido na primeira fase da Seleção
Sem medo de errar, podemos dizer que esse período constituído entre o meio do ano passado e os dias atuais tem sido um dos mais movimentados pelos quais o Brasil já passou. É realmente lindo ver tanta gente indo às ruas para manifestar suas indignações, reivindicar direitos e melhorias, mas é uma pena pensar que as coisas precisaram ir tão longe para que toda essa revolta eclodisse. Em meio a esse mar de protestos temos um país que após sessenta e quatro anos volta a sediar uma copa do mundo. Sei que muita gente odeia esse clichê, mas não dá pra esconder: nós somos o país do futebol! Até quem não é muito fã do esporte se contagia com o clima que uma competição desse porte provoca e torce pro Brasil ser campeão. Não adianta negar, e nem precisa também, porque ao contrário do que muita gente anda falando por aí, torcer pro Brasil não é nenhum tipo de crime ou infração.
Sim, eu sou a favor de todas as manifestações. Concordo que um país onde saúde, educação e outros serviços públicos deixam muito a desejar, deve ter outras prioridades onde empregar seus esforços e recursos financeiros. Digo isso sem medo de errar, apesar de achar que, se não realizássemos a copa do mundo, o dinheiro gasto dificilmente seria aplicado em algo realmente necessário. Mas quer saber de uma coisa? Acho que está na mais do que na hora do povo acordar dessa ilusão e reconhecer que é tarde demais pra protestar contra esse assunto. Não acham que o Brasil devia sediar a competição? Então que tivessem reclamado alguns anos atrás quando a candidatura do país foi lançada. Alguém fez isso? Não. Porque naquela época nós também sonhávamos, mas a ilusão em que estávamos imersos era outra, bem diferente dessa revolta utópica em que muitos andam se afundando hoje em dia.
O fato é que a copa está aí, pra quem quiser e pra quem não quiser ver. Está na hora de dar um tempo nessa rigidez toda, galera. Não há nada de errado em sentar na frente da TV pra acompanhar um jogo da seleção que representa o seu país, vestir a camisa pra torcer e comemorar cada vitória. Isso não te torna um leigo, e não diminui nem um pouco o seu senso político. Já vi algumas pessoas no twitter ofendendo motoristas que gostam de colocar bandeirinhas no carro, ou quem curte colecionar figurinhas no álbum da competição. Relaxa, meu povo, nós só estamos nos divertindo, e quem realmente tem uma opinião consistente e bem fundamentada, sabe muito bem a hora de brincar e a hora de ser sério. E sabe também que não torcer pro Brasil definitivamente não é uma maneira muito inteligente de demonstrar descontentamento com essa situação.
Outro dia vi em um jornal um grupo de brasileiros que, como forma de protesto, pintou um muro com imagens de jogadores argentinos e declararam sua torcida ao país nesta copa. Essa foi uma das coisas mais absurdas que eu já vi. Só pude concluir que no meio de todo esse dilema sobre “torcer ou não torcer” algumas pessoas começaram a confundir os seus valores também. Eu, particularmente, vejo muito mais falta de patriotismo em gente que deixa de torcer pelo próprio país para apoiar um dos seus maiores rivais. Esse é provavelmente o tipo de provocação mais inútil e infundada que já existiu, e algo que, pelo menos para mim, não tem o menor sentido.
Eu não estou pedindo pra ninguém abaixar a cabeça e fechar os olhos pra todos esses erros que há muito tempo estão aí, escancarados pra qualquer um ver. Esse é, definitivamente, o momento de correr atrás, de brigar por tudo aquilo que é nosso por direito. É a hora de cobrar mais ação de quem assumiu a responsabilidade de administrar o nosso país, o nosso estado, a nossa cidade, ou seja lá o que for. É a hora de mostrar que ninguém aqui vai ser feito de bobo e que quem recebe um salário para trabalhar como político tem que mostrar serviço sim, como qualquer outro funcionário. Mas o local de protestar contra tudo isso não é na rua depredando patrimônio público com o rosto escondido por uma máscara, torcendo pela Argentina ou desligando a TV quando o jogo do Brasil estiver sendo transmitido. Seu protesto deve ser feito no dia cinco de outubro, em um pequeno aparelho chamado urna eletrônica.
Vanessa Correia tem vinte anos e ama escrever. Uma eterna apaixonada por livros, princesas, novelas mexicanas e sorvete de chocolate. Acima de tudo, uma garota que sonha.
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