sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Não É Nada, Mas É Tudo


Sei lá.

De todas as maneiras que eu poderia começar esse texto, eu só consegui chegar a um grande e confuso sei lá. Com um baita ponto final depois. Do tamanho do nó que está na minha garganta, sabe? Que eu não consigo desamarrar nem engolir nem cuspir nem vomitar nem, de jeito algum. Já faz tempo que eu não escrevo nada porque a vida me atropelou pelo caminho. Mas ninguém precisa se preocupar: apesar das feridas ainda abertas eu tô bem. Tô viva e caminhando e no fim é sempre isso que importa. E talvez por isso eu fiquei tanto tempo olhando pra essa folha em branco tentando colocar pra fora o que está me sufocando aqui dentro. Tanto, mas tanto tempo, que parada esperando um insight pra ver como começaria um texto que com certeza terminaria falando de você, eu comecei a fazer besteira.

Talvez seja TPM. Eu acho TPM a melhor desculpa de todos os tempos, sabe? Você chega e diz que está na TPM e todo mundo acredita, ninguém nem questiona que seu humor desabou, que seu desânimo alcançou nível máximo, que tudo tá te enchendo a porra do saco e que ainda bem que você não tem uma arma porque é claro que com uma arma você teria matado todo mundo que resolveu falar com você nesse lindo período do mês. Ninguém manda você ser mais forte que os hormônios, diz que não sabe por que você está reclamando já que tem muita gente sofrendo muito mais sem derramar nenhuma lágrima. Ninguém manda você parar de drama. TPM é coisa provada cientificamente, você gostando disso ou não. É a desculpa perfeita. É o engana bobo. Ou o esperto, que no fundo até sabe que foi o causador da merda que abalou o estado emocional da mulher. Mas todo mundo engole a TPM mais fácil que eu engulo esse bolo no meio da garganta me sufocando e me deixando zonza. O único problema dessa desculpa perfeita é que só dá pra usar uma vez ao mês. Depois, todo mundo sabe, ela vai embora e você que fique sozinha com seus dilemas, dúvidas, medos e incertezas que carrega junto com aquela ferida aberta que cê até tampa e passa remédio, mas que nunca, jamais, em hipótese alguma, cicatriza.

É TPM sim. Mas também é um monte de outra coisa. É tipo aquela canseira que te dá quando tu olha pro calendário e percebe que oito meses se passaram e você não conseguiu fazer nada da sua listinha de final de ano, mesmo que sua listinha não tenha sido escrita e abandonada na gaveta junto com um monte de papel que você deveria jogar fora e não joga. Porque eu não fiz porra de lista nenhuma, mas claro que eu tinha metas e, veja só, não alcancei nenhumazinha esse ano ainda. É uma vontade meio louca de jogar tudo pro alto e se reinventar. Mas aí eu dou uma olhada pra bagunça do meu quarto e percebo que se jogar tudo pro alto quem vai ter que arrumar depois sou eu, e já basta eu ter que organizar a pilha de livros em cima da estante e os milhões de xerox de faculdade que ainda nem decidi onde vou colocar ou se vou jogar fora.

Tá aí. Eu sou péssima nisso: jogar fora. Me livrar de coisas que um dia me fizeram tão bem é como me oferecer a um deus qualquer em sacrifício. E ninguém gosta de ser sacrificado mesmo quando sabe que é para um bem maior. Por mais que hoje tudo que está guardado não me faça bem algum. E não falo só do que guardo fisicamente; não falo dos presentes que ganhei, das cartas que me enviaram, dos cds de música que gravaram para mim. Mas também das promessas que escutei e que não foram cumpridas ou que foram abandonadas no meio do caminho porque se tornou mais fácil desistir do que continuar. Falo das coisas que ouvi, compartilhei, vivi e que carrego nas lembranças colecionadas nesse meu coração idiota que ninguém leva a sério. Mas tudo bem, a quem eu posso culpar, se nem eu mesmo levo a sério meu coração idiota que é sempre capaz de dar uma outra chance e perdoar uma outra vez?

Eu queria mesmo ser dessas pessoas que sabem pontuar bonitinho conforme as regras da gramática. Essa gente metida a besta que sabe exatamente onde colocar o ponto, a vírgula, o ponto e vírgula, os dois pontos, o travessão, a exclamação, a interrogação e o mais importante: o ponto final. Mas a verdade mesmo é que sou tão desorganizada que organizar as frases com a pontuação correta é impossível para mim. Quando estou assustada com alguma coisa ou empolgada com algum evento eu não exclamo, eu termino a frase perguntando. Você tá de brincadeira comigo??? Eu estou feliz???? Eu não sei nem usar a porra dos pontos certos??? Eu não quero nem saber??? Eu sou uma dúvida constante, vocês estão vendo. Que não sabe pontuar e também não sabe exclamar. No final, sou uma verborragia sem limites que vomita palavras juntas e depois reescreve tudo tentando achar o melhor lugar pra colocar aquela vírgula que eu sei muito bem que não pode vir depois do sujeito e antes do verbo que tá em seguida. Eu conheço as regras do jogo. Eu só não gosto muito de regras. E nem de jogar.

Eu tenho um monte de assunto pendente, um monte de porta deixada aberta esperando que você volte ou apareça e peça um café, um abraço e um cafuné. Um monte de monstro que eu escondo debaixo do tapete depois de varrer toda a poeira que ataca minha rinite pra debaixo da cama. Eu me saboto o tempo inteiro. Eu finjo que segui em frente, mas estou no mesmo lugar. Eu não sei achar o fim das histórias que vivi e que não consegui terminar como termino a maioria dos meus textos: com aquelas frases de efeito que enche os olhos do leitor que está do outro lado da tela e me faz ter uma ponta de orgulho de mim mesma.

Eu queria falar de você também. E falar que um pouco dessa confusão que estou é culpa sua. Mas é um pouco que mesmo que me deixa assim, tão distante e fechada e silenciada com meus dilemas sem pedir ajuda, não muda em nada o que sinto ou minha vontade de ficar. Eu vou ficar até as forças acabarem e eu cansar de nadar sozinha no mar em ressaca que você me fez mergulhar. E depois eu juro que aprendo a boiar como nunca aprendi e não me afogo nem te abandono nem subo no primeiro barco que aparecer. Porque eu sou assim, cê entende? Eu tenho esse coração bobo que é sempre capaz de perdoar uma outra vez. Eu vou estar aqui sempre que você precisar. Mas eu queria mesmo era que você precisasse um pouco mais. E talvez, só talvez, seja isso que me doa tanto e que eu não saiba dizer. Precisar tanto de alguém parecia ser uma coisa tão distante antes de te conhecer.

E eu acabei metendo o seu pronome no meio de um texto que não era pra você.

A crise já já passa. Ninguém precisa se preocupar. No fundo eu sei que é só draminha idiota de alguém que não tem muitos motivos pra reclamar. É só essa coleção de histórias mal acabadas que tenho na estante, a falta de pontos finais aonde tudo já chegou ao fim e o medo da gente se tornar como tudo isso que sufoco no meu peito enquanto dou sorrisos de eu-tô-bem-te-juro que engana só quem quer ser enganado. Nem se preocupa, nem perca seu tempo. É só um pouco de TPM, meu bem.

Um pouco de TPM e um muito de um sentimento que não diz nada e diz tudo, que ninguém entende, mas que ninguém procura alguma explicação. É um muito de um sentimento que eu adoro chamar de: sei lá.


Um comentário:

  1. Mais ou menos definindo o meu momento de vida. Oito meses e nada - ou quase nada - realmente aconteceu. Não tô falando de lista nenhuma, não sou dessa. Mas tô falando do universo conspirar ao meu favor. Pelo jeito, ele não é muito meu fã.

    Love, Nina.
    ninaeuma.blogspot.com

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