segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Catarse

Catarse:   Libertação de emoção ou sentimento que sofreu repressão.
(Dicionário Aurélio)



Ela tá passando mal. E nem adianta pedir pra ela tomar um sal de frutas pra ver se resolve. É ressaca de decepção, é ferida de amor, é dor que não pode achar cura além dos ponteiros que passam no relógio vermelho do seu quarto. Marca o tempo e marca a dor também, porque parece que toda aquela dor não tem fim. É doença de alma, é sangria de coração, é tristeza além do seu olhar quase preto, quase alegre, quase bonito e quase inesquecível. 

Tá se afogando em lágrima que é pra ver se desafoga seu peito daquela dor sem nome e sem endereço que aparece vezenquando pra confrontar sua imaginação colorida com aquela realidade cinza e dura. Ela até pode dizer que a vida é bela e que o sol tá sempre lindo no céu, mas enfrenta tão grandes tempestades que ninguém nunca se dá conta.

É que ela tem esse jeitinho de quem sufoca todas as suas dores porque não suporta conviver com a ideia de quem tá machucando alguém. E tudo bem que isso abre nela feridas que ela sabe que nunca vai conseguir tampar, e tudo bem que todo mundo meio que pensa que pode fazer o que quiser com ela porque ela perdoa e deixa passar. E tudo bem que ela esquece com a facilidade com que se quebra a cada decepção. E ela já se quebrou tantas e tantas vezes que lhe falta tantos e tantos pedaços que às vezes ela se pergunta como é que está de pé e sorrindo e enfrentando a vida quando não tem a opção de apenas deixar tudo para trás e ir em frente.

Tá ouvindo um monte de música triste, sozinha pra ninguém ver. Tá voltando toda hora nas faixas de Coldplay. Tá ferindo seu corpo com suas unhas compridas que é pra ver se a dor da pele diminui a dor do coração. Tá tentando esquecer, sem reclamar pra ninguém. Porque fora da sua casa ela é sempre inteira, completa e feliz. Ela tá sempre bem disposta e sorrindo. Guarda as lágrimas só pra si. Guarda a dor só pra si. Guarda o mundo de angústia só pra si. E quando chega ao seu limite, ela passa mal entupida com o mundo de sentimento e o punhado de anos que carrega nos ombros.

Mas não cospe pra fora. Não coloca o dedo na garganta e se debruça em si mesma pra se livrar daquilo. É do tipo que acredita que tem que passar por tudo isso. é do tipo que acha que dá conta de superar qualquer coisa. Só se deixa doer, assim, sozinha, sem que ninguém possa ver o quão frágil ela pode ser. Se encolhe e se abraça e volta a posição fetal pra impedir que a dor a derrube no chão da vida. No máximo, deixa as lágrimas caírem tão silenciosamente que, se não escorresse pelo seu rosto, nem ela notaria. Depois vai pro banho e deixa a água levar. Diz ela que água leva tudo. Não tudo. Mas aí veste sua melhor roupa e vai pra luta. Luta. De luto que ninguém observa, nota ou faz questão de saber. Ela é forte, diz todo mundo, enquanto ela sorri e fala que tá tudo bem, tá tudo sempre bem, colorido no mundo fora dela e chuvoso em sua alma.

Ela tá passando mal. Tá se sufocando em palavras que nunca disse e mágoas que nunca vai expor. Vai acabar morrendo sem ar, causado por essa obstrução de quem não admite sentir dor. Tudo bem, respira ela, é bom que morrendo tudo passa. Mas enquanto isso não acontece, ela só vê os ponteiros do relógio passar e reza pra que ele cure mesmo, porque ela já não aguenta mais passar mal de tanto amor.


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