quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Blá-Bla-Bla Literário: Liberdade Crônica


Título: Liberdade Crônica
Autora: Martha Medeiros
Editora: L&PM
Ano: 2014
Páginas: 256

Existem poucos autores brasileiros que eu gosto e talvez essa seja uma grande defasagem minha como pseudo-escritora brasileira que sou. Apesar do meu escritor preferido ser brasileiro – alô, Caio Fernando Abreu, meu mestre – são poucos os que estão na minha estante ou que eu indico por aí. Dá pra contar nos dedos e eu venho tentando mudar isso. Sério. Mas, enquanto isso não acontece, eu vou falar de uma das minhas autoras preferidas, que habita o Brasil, e escreve crônica como eu ainda não vi ser escrita por aqui. E sobre a minha última leitura dela. Vou falar de Martha Medeiros. 

Sempre que sai um livro dela, eu compro. Ou ganho. Ela também é bem querida da minha mãe e isso facilita (e muito) a entrada dos seus livros na minha casa – afinal de contas, eu não trabalho – Posso citar vários livros que já li para indicar, mas vou ficar com o mais recente: Liberdade Crônica – um tributo singelo a tudo aquilo que nos liberta de nossa prisão, que nada mais é que o nosso corpo. 

O que eu mais gosto em livros de crônica é o fato de que dá pra acompanhar como o autor evoluiu no espaço de tempo em sua escrita, como ele mudou (ou não) de opinião, suas inconstâncias, suas dúvidas, suas próprias perguntas feitas há dez anos respondidas num texto mais recente. É maravilhoso perceber o quanto ele cresceu e perceber o quanto a gente cresce também, ao notar isso nos textos do outro. Em Liberdade Crônica tem textos num espaço de tempo enorme de publicação, que vão desde 1995 até 2012 e que nos mostra como Martha Medeiros é inconstante como a gente mesmo é. 

O livro faz parte de uma série que conta também com Felicidade Crônica e Paixão Crônica, e é dividido em cinco partes: fala sobre a mulher contemporânea, sobre livros e filmes e músicas, sobre a fé e o equilíbrio, sobre o divã e sobre a sociedade. Parecem temas que não se encaixam, mas, em todos esses temas, Martha pontua aquilo que nos liberta ou nos aprisiona e às vezes até os dois: sobre as conquistas femininas e o que vem com isso, sobre a arte como nossa forma mais sincera de conectar a nós mesmos, sobre a paixão dela que também é minha paixão, a psicanálise, e o quanto expor-nos a alguém é difícil e libertador e termina falando sobre a sociedade. 

Sei que nem todo mundo gosta de coletâneas de crônicas que já foram publicadas em jornais, mas sempre acho que Martha Medeiros merece o dinheiro gasto. Como ela mesmo diz, todo livro é um livro de autoajuda e cada um se ajuda como deseja. E, por falar em desejo, destaco aqui um pedaço de sua crônica que está no livro: 

“O Desejo é um leão. Selvagem, carnívoro, brutal. Não permite acomodações, nos faz farejar, caçar, brigar pelo nosso sustento emocional. O desejo nos transpassa, rouba nosso sono, confunde o pensamento lógico. O desejo corrompe nosso bom comportamento, faz pouco caso da nossa índole irretocável. O desejo não tem pátria, nem família, o desejo não tem hora nem tem verbo, o desejo ruge, nosso corpo é sua jaula” 

Que, como estudante de psicologia que sou, poderia dizer que era de Singmund Freud. Mas é apenas Martha Medeiros falando sobre o que nos liberta e o que nos aprisiona: nosso desejo e nosso corpo, sendo obrigados desde sempre a conviverem juntos em busca de um equilíbrio para que a gente, reféns de ambos, não surte.


Um comentário:

  1. Sempre tive vontade de ler algo da Martha, amei a indicação, ela parece ser ótima mesmo <3

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