sábado, 28 de fevereiro de 2015

O que fica depois do amor?




Eu ainda não tirei sua foto do fundo do meu celular. Deixo lá como um aviso singelo e masoquista de que você não é mais meu. Ainda é difícil aceitar que você não é mais meu. Todos dizem que tenho que superar, virar a página, rasgar o livro, mudar de romance. Mas tenho medo. Tenho medo do que vai acontecer depois que acabar o amor. O que é que fica quando o amor acaba na gente? Quando mais do que a pessoa ter ido embora da sua vida ela também se vai do seu coração? O que é que a gente faz com aquele espaço tão dela que depois fica vazio sem restar mais nada? O que é que sobra quando já não sobra nada?

Ninguém pode dizer que não tenho seguido em frente. Já parei de procurar sobre você nas redes sociais. Já parei de tentar saber se você já achou um novo alguém. Alguém que não te cobra metade do que eu já cobrei. Alguém de cabelo maior que o meu, mais cacheado que o meu, mais seu estilo do que o meu. Que não foge e não se esconde e não cai num silêncio absoluto quando está com raiva, porque tem controle sobre isso e sabe que não vai te magoar. Alguém que, talvez, nem se importe tanto em te magoar como eu me importei. Cuidei tanto de você, sabe? Cuidei tanto para não te fazer chorar, pra não te machucar, pra não te cobrar mais do que a vida te cobra. Cuidei tanto pra não te sufocar com meu jeito sufocante mimado fútil de ser. Errei na mão. Errei no excesso. Eu sei. A culpa é do excesso.

Da falta você nunca poderá me culpar.

Já joguei fora nossa aliança. Já rasguei as suas – poucas – cartas. Já doei seus presentes, desde aquele vestido que eu odiei ganhar e nunca te falei até aquele ursinho de pelúcia que você me deu no último aniversário e que eu dormia abraçada toda a noite, imaginando que estava abraçando a você. Doei o vestido pra um brechó. E o ursinho pra uma criança banguela que você teria sentido vontade de brincar com ela. Você ainda gosta de crianças como gostava? Espero que sim.

Já deletei todas as músicas que a gente ouvia junto, que você me apresentou ou que um dia dissemos que foram nossas. Já parei de enxergar que as rimas falavam por nós. Ou, melhor dizendo, por mim. Mas toda vez que conheço uma banda nova eu ainda penso em te mandar, só pra você ver se gosta também. Só pra ver se eu ainda te conheço como ninguém. 

Mas eu nunca realmente te conheci, não é mesmo?

Já te apaguei da minha vida, limpei os restos de cinza, varri os cacos pra debaixo do tapete. Já pintei as paredes e tampei as rachaduras. Já limpei sua bagunça da cama, do quarto, do meu corpo e da minha alma. Só falta mesmo a bagunça do meu coração. Já esqueci todas as suas faltas e já apaguei todas as nossas fotos.

Ou quase todas.

Só falta essa no fundo do meu celular, que você ta sorrindo enigmático e me olhando com cara de quem nunca teve medo de nada. Toda vez que olho pra ela me dá um aperto no peito porque você prometeu que seríamos para sempre. E não fomos. E tenho vontade de chorar e não choro. Está passando. Eu sei que está. Se deixo a foto aqui é só pra me lembrar que eu queria ter metade da sua coragem e encarar o que vem depois do nosso louco amor.

Mas eu não faço ideia do que virá quando eu te expulsar daqui, do meu coração, como você se expulsou da minha vida.

A verdade é que posso ter colocado nosso livro na estante e folheado outros romances, mas você ainda é a história que eu mais gosto de contar.


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