sexta-feira, 1 de maio de 2015

É Só Mais Uma De Amor Sobre Você





Pensei em começar esse texto pelo final. Você sabe como eu amo os finais. Como eles tem de ser sempre lindos e com frases de efeito pra impactar antes de fechar o livro, a página, a janela, as histórias, a vida. Coisa estranha essa: começar pelo final. Mas eu sempre penso na gente assim: pelo fim. De todos os caminhos e direções que eu poderia pegar para falar ou me lembrar de você, eu sempre fico presa ao fim. Acho que é simplesmente porque não entendo. E, porque não entendo, escrevo. Eu sei, o começo foi bem mais bonito com nossas risadas, nossos encontros de gostos comuns, nossas descobertas do outro que pareciam até descobertas de nós vista de um outro ângulo. Eu sei, o meio foi bem mais encantador. Com a gente desfilando por aí de mãos dadas e sorrisos abertos, confiando que seriamos para sempre. Logo a gente, que, no começo, dizia que para sempres nunca existiriam.

A gente tinha razão, no começo. Para sempre nunca existiu.

Pensei em começar outro rascunho sobre você. Sobre suas linhas tortas e meu desejo de te consertar. Sobre tudo o que eu quis viver com você. Sobre a gente, cê sabe, a gente jogado num lugar qualquer olhando pro céu e falando besteiras como se não tivéssemos dilemas importantes porque, afinal, seríamos para sempre e o dia estava tão lindo pra estragar com coisas sérias. 

Estragamos tudo.

Eu já te dei todos os motivos pra você voltar pra minha vida. Eu já mandei indireta, texto, e-mail, carta codificada e um belo de um oi, se você quiser eu to aqui, bem direto na sua rede social. Eu deixei a porta escancarada pra você voltar. Caralho, mesmo depois de tudo, dos seus nãos, dos seus silêncios – o que me doeu foram os silêncios, cê sabe – eu ainda te dei motivos pra ficar, pra dar um oi, pra ver se não tinha esquecido nada, nem a mim, por aqui. Você ignorou. Talvez seja hora de mudar o rumo, quem sabe.

Mas acho que a vida nem os relacionamentos funcionam assim, como a gente vinha funcionando. Não se trata de te dar motivos pra você ficar, nunca se tratou. Não se trata de um lado só tentando fazer dar certo, se humilhando, correndo atrás, pedindo perdão por coisas que nem sabe que cometeu. Não se trata de fugir ao invés de confrontar. Não se trata de jogar fora os cacos ao invés de tentar ver se tem conserto. Não se trata de silêncios. Se trata de conversas, de parceria, do chegar de mansinho e falar o que doeu. De dizer que tava doendo, porra. Que não era aquilo que cê queria. Que eu tava fazendo tudo errado. Que não era isso que cê esperava de mim. Expectativas, a gente sabe, sempre estragando a porra toda.

Não se trata de te dar motivos pra voltar. Se trata de você querer vir e conferir o que deixou pra trás. Ver os estragos e as rachaduras e as mudanças que tua saída me causou. O caos que se instalou até que eu reencontrasse um ponto de equilíbrio. Reencontrei. Cê sabe, eu sempre reencontro. Não é sobre as nossas coisas que ainda temos em comum – aquele livro que a gente ama, a música que a gente escuta e pensa um no outro, o nosso gosto meio non-sense pra psicologia – mas é as diferenças. A gente ainda é capaz de nos amar apesar de todas as diferenças?

A gente é, apesar de, se?

Não. A gente nunca foi capaz, não é? Foi por isso que a gente se estragou.

Foi por isso. Por tudo isso e por nada disso. Relembro aqui em linha temporal nossos acontecimentos tentando achar um motivo pra gente ter despencado aqui, tão longe de nós. Mas eu sei que não foi um fato, foram vários. Que a gente empurrou pra debaixo do tapete pra não estragar o dia, o café, a música boa e o céu azul.

A gente se estragou, você diz.

Concordo. Nos estragamos.

Mas permita-me, a porta ainda está aberta. Eu não guardo raiva nem rancor nem mágoa nem desejo de te ferir de jogar verdades na sua cara não guardo nada de ruim. Guardo lembranças em gavetas que limpo vezenquando pra nunca esquecer você. Guardo um gosto amargo – e só isso – na boca daquele pensamento que vem e some e vem outra vez: e se tivéssemos feito diferentes? A gente teria terminado assim? Sem fim?

Só queria te avisar isso: to mudando a rota na esperança de, com isso, a gente voltar a se esbarrar. Porque a porta continua aberta. Tem música boa, livros novos, café quente e um abraço que eu queria muito ter te dado e você não pediu. Quem sabe, não é, quem sabe assim, por descuido, poesia, acaso ou ironia você trombe por aqui qualquer dia e resolva ficar?



4 comentários:

  1. Oi, Nanda :)

    Sempre leio seus textos, mas é bem raro eu comentá-los (não sei por quê). Só vim aqui pra dizer que adoro o jeito que você escreve, assim coisa mais "coloquial" (com os cês e o vezenquando), AMO! <3 E devo dizer que, apesar de você ter querido começar pelo final, acabou que o final se tornou mesmo um final: essa última frase tá linda! Amei demais, super me identifiquei!

    P.S.: Vou tentar comentar mais, ok? ^-^

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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  2. Caramba, serviu como dose de realidade até pra mim, viu?!
    Este texto tipo definiu o momento pelo qual tô passando.

    Inquietudes Secretas

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Comentários

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