sábado, 5 de setembro de 2015

Prefiro Dizer Adeus




Seus pés se arrastam pela casa enquanto seus olhos procuram uma saída – seja olhando para a porta, para a janela, para a televisão, para qualquer lugar além de mim. Você já não me encara. E, se me encara, não me vê. Quando foi que eu passei a não existir mais para você?

É uma sensação estranha essa: saber que já acabou, mas não conseguir saber quando finalmente chegará o fim. Posso ver no seu jeito de me beijar, no fato de sempre concordar comigo para encerrar um assunto, em como não discute para escolher um filme que vamos ver na semana, em como se joga na cama e vira para o lado para dormir. Acabou, não foi? Acabou e você não consegue me avisar, não consegue me falar. Merda. Você nem mesmo consegue me olhar.

Queria que tivesse acabado para mim também, sabe? Queria que a gente fosse um desses casais bonitinhos que descobrem juntos, numa manhã ensolarada, que o amor escapou pela janela esquecida aberta. E então seriamos amigos, manteríamos contato sem rancor ou dor, eu sorriria ao falar de você pros meus amigos e, quando sua próxima namorada perguntasse sobre mim, você diria que eu fui muito importante – mas que acabou. Não precisaríamos de silêncio, de fugas, de fingir que está tudo bem para os amigos e nossas famílias. Teríamos a coragem de ir porque saberíamos que não estaríamos magoando ninguém.

Mas não somos assim. Talvez a vida mesma não seja assim – feito capítulo bonitinho de novela romântica. O amor não acaba igual para os dois lados da história. O amor não acabou para mim. Eu ainda te amo e te quero na minha vida por todos os meus dias. Eu ainda te acho sexy quando está jogado no sofá vendo seu time jogar, como se o mundo não existisse lá fora. E o modo como você sorri quando recebe um elogio. Meu coração dispara quando você me abraça e aperta quando você me solta. Tenho medo do abandono. Medo de quando você finalmente vai apenas parar de olhar para a saída mais próxima e finalmente ir.

O que me dói não é o fim do amor. Te juro, meu bem, não é. Sei que quando você for eu vou me dilacerar, mas nunca fui o tipo de menina que acha que o mundo acaba ao ser deixada para trás e você sabe. Eu sei que vai passar, como você passou pela minha vida e segurou minha mão e como esse amor passou por nós e foi embora. O que me dói, de verdade, é que você não tem coragem de ir embora e fica – fica em pedaços, se doando pela metade, me enchendo com histórias vazias enquanto se agarra a copos cheios de bebida alcoólica para ver se consegue engolir essa verdade: acabou pra você. E, por ter acabado para você, acabou para nós.

Queria lhe dizer isso. Que eu sei. Que eu consigo compreender que toda vez que você olha para além de mim é na sua fuga que você está pensando. Que esse apartamento ta pequeno para seus sonhos. Que eu estou apertada para os seus sentimentos. Que nossa história já não lhe basta e que tudo o que você quer é dar um ponto de basta em nós dois. Eu sei. E nos meus sonhos eu ensaio meu discurso a você, que se for para ser assim, prefiro te dizer adeus.

Não consigo lhe dizer, porque me dói a memória que guardo de nós. E o amor que foi embora para você e que não me deixou me sufoca antes que eu te conte que não precisa tentar fingir que está tudo como sempre esteve. Acabou, não foi? Eu sei. Você só precisa assumir pra você e para mim. Acabou a história de nós dois.




Um comentário:

  1. É egocêntrico e narcisista da minha parte... Mas é assustador como os seus textos me refletem exatamente. É consolador também saber que alguém consegue, pelo menos reduzir a termo o que jamais eu conseguiria. Sucesso pra ti guria! –de um fã muito ausente-

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