Nunca fui aquele tipo de pessoa
que morre de amores pela arte de cozinhar, fazia uma sobremesa ou outra em
alguma data especial, mas não era nada de mais. Há uns cinco anos eu estava em
casa, toda iludida, achando que a vida adulta acontece de uma hora para a outra
e então comecei a me interessar por algumas receitas específicas. A ideia era
que logo eu precisaria morar sozinha e se não soubesse cozinhar pelo menos o
básico iria morrer de fome dentro casa. Nessa pressa de começar a me preparar
para a vida como uma adulta independente, adivinhem qual foi a primeira receita
que eu quis aprender... Arroz? Feijão? Alguma carne que ficasse legal em uma
travessa e me permitisse fazer bonito na frente das visitas? Não. A primeira
coisa que quis aprender foi o pão de queijo! Acho que pela minha lista de
prioridades alimentícias já é possível perceber o quanto estava preparada para
morar sozinha.
Agora acabei de completar 22
anos, ainda moro com minha mãe e pra completar a lista de coisas que eu não
imaginava que poderiam acontecer comigo, acabei de largar uma faculdade no
sétimo período para começar tudo do zero em um novo curso. A vida, como sempre,
saiu completamente do plano inicial, mas a receita do pão de queijo só foi
aprimorada ao longo dos anos, então decidi prepara-la um dia desses. Coloquei
no fogo a mistura de leite, óleo e sal, que usamos para escaldar o polvilho e
em seguida (como sempre) meu sossego acabou. Assistia a um vídeo da Jout Jout,
conferia se o leite tinha fervido. Dava uma olhadinha no twitter, conferia se o leite já tinha fervido. Me distraía um pouco
mais com algum textão do facebook e
quando me lembrava do fogo já saía correndo com medo de o fogão estar todo sujo.
O leite ainda não tinha fervido.
“O leite só vai ferver quando você sair de perto.”
Essa foi a sábia frase que minha
mãe disse enquanto via minha correria, e a verdade é que ela estava mesmo
certa. O leite só ferveu quando eu saí de perto (felizmente eu consegui
desligar a chama antes que ele inundasse o fogão). Mas o fato é o seguinte,
vocês já perceberam quantas coisas na nossa vida imitam esse leite cheio de
vontades? Se queremos muito um emprego, encontrar o amor da nossa vida ou só
comprar aquela edição comemorativa do nosso livro preferido que está custando
os olhos da cara, já vem aquele coro dos otimistas (ou seria o coro dos
acomodados?) para dizer coisas do tipo “Fique calma, sua hora ainda vai chegar”
ou então “Quando você menos esperar tudo vai acontecer”.
Sabe, talvez tudo isso seja
verdade. Talvez o leite só ferva quando eu me esquecer que ele está no fogo,
talvez o livro só entre em promoção quando eu tiver perdido as esperanças de
compra-lo ou talvez o amor da minha só apareça quando eu parar de procurar tão desesperadamente
por ele. Porque aqui entre nós, todo mundo sabe que ele não vai estar lá
naquele aplicativo de paquera que só serve para ocupar a memória interna do
celular. Mas eu quero ter o direito de não me contentar com esse “talvez”,
porque talvez o que esteja realmente me cansando seja essa pressão toda para
cantar junto com o coro dos otimistas-acomodados.
Pode ser que isso não seja o mais
saudável, mas eu prefiro mesmo é me descabelar, me preocupar, achar que o mundo
vai acabar se aquilo não der certo naquele momento e no outro dia perceber que
nem era preciso fazer tanto drama assim. Quero ter a liberdade de vigiar o
leite de cinco em minutos e de ficar imaginando que cada match pode ser a minha
metade da laranja. É que eu prefiro ser a louca que sofre por antecipação do
que ser aquela pessoa que fica sentada no sofá usando o destino para justificar
a preguiça de se esforçar para ver seus desejos se realizarem. Ou talvez o que
eu queira mesmo é... Quer saber, deixa pra lá, já tem “talvez” demais nesse
texto.
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