sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Quase Nós


Baseado na música I Almost Do - Taylor Swift


Nossa música toca no modo aleatório do meu celular e antes que eu consiga apertar a tecla que levaria a próxima, penso em você. Penso em você e no dia em que você me disse que essa música era tão a nossa cara, quando ainda nos conhecíamos, quando ainda não víamos os defeitos insuportáveis um do outro, quando eu ainda acreditava que poderia haver um nós – um nós tão lindo e tão romântico e tão tudo o que sempre quis enquanto me permitia ser contaminada por todo o amor romântico que devorava nos livros água com açúcar que lia pela madrugada. 

Nós – tão lindo, se não soasse tão sós. Sós conosco mesmo, quero dizer, quando tudo ficou negro demais para suportar, quando sua grosseria ultrapassou minha paciência, quando meu ciúme te fez recuar e se afastar, quando. Penso em nós e eu quase ligo – quase, quase mesmo – quase disco os números que ainda sei de cor, quase espero passar dos três toques que você sempre espera para atender uma chamada, quase digo oi, tô com saudade, vem me ver, quero te ver

Tudo verdade, a gente sabe, ainda assim não ligo. Mas quase, quase. 

Do outro lado da cidade, talvez você não tenha dormido ainda, talvez você pense em mim olhando pro teto do seu quarto, encarando a quietude que é sua vida sem minha voz estridente, minhas músicas ruins, minha cantoria pela noite enquanto rodopiava pelo chão de seu apartamento em passos de dança sem ritmo, mas feliz. Talvez você pense em mim enquanto toma seu café sempre sem açúcar e se pergunta o que é que deu errado, se a gente parece tão bonitos na sua lembrança. A gente era mesmo bonito juntos na fotografia, não é mesmo? O problema que a gente nasceu pra ficar separado e, por mais que tentamos – e tentamos muito, cê sabe – nunca nos tornamos nós. 

Nós – que se entrelaçam, mas não se aprisionam, que quando vira aprisionamento já deixou de ser amor. E foi amor? Não sei. Cê sabe? Se eu te ligar você me responde? Me tira essa dúvida que me atravessa e não me deixa dormir? E eu quase te ligo – quase, quase – E quase chego a discar seus números, e quase chego a chamar seu nome, e quase lhe grito aqui do outro lado da cidade: foi amor, não foi? Foi amor o que entre nós acabou? 

E sei que pelas fotos, pelos silêncios, pelo jeito com que saí da sua vida e não te permiti nenhum retorno, eu sei que você pensa no fim de noite que eu te odeio. E eu quase, quase te odeio – te juro, quase. Assim como quase te ligo. Mas não te ligo nem te odeio. Apenas desatei o nó – e me permiti ser feliz só. E talvez, só talvez, você tenha encontrado sua felicidade do outro lado da cidade – longe dos meus problemas, dos meus cabelos enormes, da minha voz esganiçada e da minha dança tão desritmada. Sem ritmo, cê sabe, é o que fomos nós. 

Nós, tão sós, tão esquecidos, tão fingidos que seguimos em frente sem perdermos nada na despedida. Bobagem e a gente sabe – a gente, separado, como tem que ser – toda vez que vamos embora da vida de alguém perdemos um pedaço, deixamos um pedaço, partimos machucados a procura de ser curado. E não nos curamos, porque o pedaço é único e foi deixado pra trás – abandonado numa guerra de orgulho e nunca mais recuperado. Passou. Passamos. Talvez nem nunca existimos. Perdemos

Mas as vezes eu penso em te ligar só para te avisar que toda vez que eu não te ligo, eu quase ligo. Quase, quase. Assim como quando eu quase disse que te amava, no dia em que a gente dançou essa música que acabou de tocar. Eu quase disse. Eu quase te amei. Eu quase te ligo, quase, quase. Mas esse quase não muda nada e eu não disse, eu não te amei, eu não te ligo. 

Mas quase. Te juro: entre nós, tão sós, o que acabou tudo foi esse quase. Que é tudo o que me impede de te ligar.


Um comentário:

  1. Oi, Nanda :)

    Nossa, tinha esquecido que essa música existia, acredita? Faz tanto tempo que não ouço as músicas da Taylor (além de Style). Só dei uma passadinha para dizer que: reconheço muitos do que você quis passar nesse texto, experimentei isso algumas vezes esse ano por causa de uma mesma pessoa e, exatamente como você coloca ali "desatei o nó – e me permiti ser feliz só."Eu me acostumei tanto a ser sozinha que, sempre que volto à estaca zero de um desamor, não é especificamente algo doloroso, porque eu sempre gostei de ser feliz sozinha (ou de, pelo menos, me convencer de que sou feliz assim). Eu acho que foi amor, ainda é amor e vai continuar sendo, mas não gosto mais dessa pessoa, sabe? Muitas coisas me decepcionaram e não dá mais pra nutrir um gostar genuíno. E tá tudo bem, na verdade, porque é a vida. A gente vai levando esse barco conforme o vento.

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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