Lá vem ela tentando se equilibrar no seu salto alto. Já tem
trinta anos e já aprendeu que tem que trilhar sozinha o seu próprio caminho.
Ela até tenta, sabe, seu Zé, ninguém pode não acusa-la disso. Só que ficam
todos também tentando trilhar para ela uma vida que ela não quer e ninguém percebe. Eu
percebi, lá atrás. Quando ela parou de olhar para mim como se eu fosse seu
mundo, quando ela parou de me olhar com aqueles olhos cheio de brilho. Tá vendo
aqueles olhos, seu Zé? Aqueles ali, azuis, intocáveis... Diz aí se tem como
esquecê-los? Eu não consigo. E a verdade é que, ainda que disfarçando,
tentando, abrindo à força um caminho, com outra mulher que não tem aqueles aqueles olhos, eu não quero esquecê-los. E como poderia? Como, seu Zé? Se foi com ela
que eu vivi os melhores anos da minha vida?
Aqueles olhos contam histórias que ninguém consegue ler, seu
Zé, história que só eu cheguei a conhecer.
E esquecer-se deles seria como se esquecer de mim. Agora, aqui, à distância,
eles me parecem tão tristes enquanto ela distribui sorrisos de felicidade por
aí... Falta brilho, ali, falta a mim na vida dela. A gente não nasceu para der
certo e sempre soubemos, mas tentamos porque era mais forte do que tudo esse
sentimento que ainda carrego dentro de mim. Ela também carrega dentro daquele
coração sempre leve dela. Coração de criança. E como criança ela vai
tropeçando, caindo e errando enquanto o resto do mundo aponta o dedo no seu
rosto para tentar fazê-la voltar ao caminho. Eu também poderia apontar o dedo
nela e dizer o quanto ela está errada. Mas já sei que ela é teimosa, seu Zé,
tem que errar por si própria para tirar dali suas melhores lições. E eu tenho
um orgulho disso, seu Zé, que nem te conto.
Aliás, orgulho por aqui a gente tem de sobra, né? Eu tinha tanta coisa para falar que sei que ela não escutaria,
que fico aqui como mais um admirador perdido nas burradas que ela fez. E ela
sabe muito bem que fez. Ela ainda não percebeu
que é sua maior inimiga, que perde apenas para si mesma, sabotando sua própria felicidade.
Não é culpa dela isso não, ela tem medo, seu Zé, dá para ver naquele sorriso de
boneca, de se entregar a alguém como se entregou a mim e se machucar como um
dia só eu a machuquei. E é por isso que não a condeno nem julgo, eu saí
machucado aqui também e ela bem sabe disso. A gente tem tentado reconstruir
nossos cacos e abandonar aquela história só nossa que nunca devia ter
acontecido.
Ela chegou aos trinta, seu Zé, dá para acreditar? Mas ainda
é aquela menina carente de amor que um dia eu descobri debaixo do cobertor. E
aqueles olhos grandes e cheios de medo continuam a me perseguir pelas noites
insones. Ela não sabe que eu a tranquei aqui dentro e guardei a chave na
esperança masoquista de ainda conseguir salvar a nós dois desse naufrágio que
sempre foi iminente. E fico aqui, em silêncio, vendo a errar, tropeçando em si
mesma tentando se equilibrar naquele salto tão alto, para poder me apagar da
sua pele. Eles não sabem, mas a gente sim. A gente sabe que esses erros são uma
tentativa frustrada de correr atrás de acertos que consiga desmanchar tudo
aquilo que a gente, um dia, foi. Eu poderia até desejar a ela, seu Zé, muitas
coisas, muitas mesmo, e talvez bem melhores... Talvez uma família, um
casamento, alguns filhos que a gente nunca teria, ou muitos outros sonhos
realizados... Mas me deixo ser egoísta mais uma vez como ela sempre me acusou
de ser, e aqui, do meu canto, sem culpa por isso, eu fecho os olhos e apenas
peço... Para Deus, para vocês, para ela e para o nosso amor, torto, é verdade,
ainda assim um amor:
Deixem, deixem-na andar assim, aos tropeços, quem sabe,
então, por algum descuido, poesia, acaso ou outro dos seus mil erros, ela caia
bem aqui, nos meus braços, de vez nessa minha vida?
PERFEITO demais..arrasou! Meus olhos se encheram d'água, sou uma eterna traumada que ainda acredita no AMOR entre eles.
ResponderExcluirAlgun día... #Ido
I do believe, I DO hahahahahahahaha
Excluir<3
LIIIIIIIIINDO, DE VERDADE! <3 /// E a verdade é que, ainda que disfarçando, tentando, abrindo à força um caminho, com outra mulher que não tem aqueles aqueles olhos, eu não quero esquecê-los. E como poderia? Como, seu Zé? Se foi com ela que eu vivi os melhores anos da minha vida?
ResponderExcluir"Ela não sabe que eu a tranquei aqui dentro e guardei a chave na esperança masoquista de ainda conseguir salvar a nós dois desse naufrágio que sempre foi iminente."
ResponderExcluirEla não sabe, mas nós sabemos <3
hahahaha
Excluira gente sempre soube
Que lindo Nanda ;o
ResponderExcluirVc escreve divinamente , mas quando coloca o trauma no meio ferrou ksoksok é perfeição na certa . Um mar de sentimentos e lembranças transbordam .... <3