No olhar que mudou, no sorriso novo e até na falta dele. Nas
lembranças que não se apagam com bebidas, baladas, rostos novos e corpos
perdidos em lençóis. E nas lembranças que se foram na porta batida –aquele “eu
te amo” que você não disse quando ele te olhou daquele jeito único, aquele sorriso
que ele não te arrancou, o lugar que você teria adorado conhecer com ele e não houve
tempo. Nos objetos abandonados e esquecidos pelos cantos da casa –aquele brinco
que você adorava e não buscou, aquela camisa que ele esqueceu, o próprio
coração que ficou, apertado, sangrando, batendo lento para poupar forças e se
recuperar. Ainda há algo do amor que acabou, que restou em vocês.
Pode ter acabado aos berros e feridas abertas, em ódio pela
indiferença de quem um dia causou tanto. Ou também pode ter acabado no
silêncio, sem perguntas, respostas, ofensas e acusações; mas nem por isso menos
doloroso. Ausência de gritos não quer dizer ausência de dor. Pode ter acabado
no meio de uma crise de ciúme idiota sua, na provocação rotineira dele que
cansou, ou no meio daquela música que era só de vocês, mas que já não conseguiam
dançar no mesmo ritmo. Não importa. Independente do jeito com que terminou, por
quê ou quando, a verdade é que não precisa procurar para saber: ainda que ele
tenha ido, ainda que cada um tenha seguido um destino, o amor ficou.
Ficou no gosto musical que ele trouxe e do qual você nunca
vai conseguir se livrar. Nas fotos que você não vai conseguir rasgar. Nos
momentos inesquecíveis que não conseguirá apagar. Ficou no que você é agora,
transformada pelo que ele te ensinou ao chegar em sua vida –você não gostava de
política, livros e Beatles antes dele. E agora, você não consegue se ver sem
ouvir Hey, Jude uma vez ao dia (afinal, tudo vai ficar bem, não é, não o
decepcione!) –Outras coisas nem ele conseguiu –gostar de futebol, por exemplo,
pelo menos dessa paixão você conseguiu se livrar –Ainda assim, você deve o que
é agora a ele e ao passado que vocês tiveram –das cicatrizes até aqueles
sorrisos que só ele te arrancou. Sobrou amor na cama vazia, nos silêncio do
telefone e no abismo que agora separam vocês. No rastro de desejo que ele
deixou em seu corpo e na tatuagem que suas unhas vermelhas cravaram na alma
jovial que ele ainda tem, mesmo depois de tudo. Ainda há amor nele também. Por
mais que ele tenha saído aos berros dizendo que não te amava mais e que tudo –tu-do –havia acabado –fala sério,
você acreditou mesmo nisso? –. Por mais que a paixão tenha acabado, a música tenha deixado de fazer sentido e a história de vocês tenham chegado ao fim, vai ter sempre um pouco do amor, dentro de vocês, que fica, que resta, para te lembrar do que viveu, do que aprendeu, do que compartilhou, porque nem tudo acaba e ainda que acabe, vocês podem não ser nada agora, mas foram um dia, e sempre haverá algo
E quando ele pensar em você e nas coisas que só você o fez
sentir, ainda que haja outros amores depois –e vão haver mesmo, você sabe –vai haver amor. Nas
lágrimas derramadas, na dor sentida, nas noites que passou acordada tentando
achar onde errou, na esperança desesperada de vê-lo voltar atrás e no orgulho
que te impediu de ligar e pedir uma outra chance pra fazer tudo diferente.
Naquela música que poderia ter sido de vocês –e não foi. Naquela declaração que
você ensaiou em frente ao espelho o dia todo –e não aconteceu. Naquele sonho
que você sonhou com ele e finalmente alcançou –e ele não tem nem ideia. Por
mais que você o odeie agora, com todo o direito, eu também sei, e por mais que
ele diga que foi a maior perda de tempo e burrada da vida ter ficado com uma
mimada como você (ele quer mesmo te fazer sentir mal, a gente sabe), no fim da noite, quando você se livra das roupas e da maquiagem
que tentam fortalecer sua decisão de seguir em frente e mascarar a saudade que sente,
sozinha, no seu quarto, antes de fechar os olhos, você sabe: ainda há algo do amor que sentiram. E
haverá, para sempre, em cada vez que pensarem um no outro, em cada lembrança que ele lhe deixou.
Caramba. Você escreve muito bem (mas isso você deve ouvir sempre né? rs).
ResponderExcluirLi o seu texto Sem pausas e sem vírgulas no blog do Vítor Leal e não pudi ficar sem dar uma passadinha aqui para ler mais dos seus textos, então... já estou seguindo!!!
E quanto ao texto, sempre acreditei que embora haja lembranças ruins e tristes no fim de um relacionamento, aqueles momentos juntos e felizes sempre ficarão gravados e nada será o suficiente para apagar eles, nem mesmo o ódio que talvez cresça... As lembranças do amor sempre prevalesse.
Beijinhos
sonhos-constantes.blogspot.com