Sua mensagem no meu celular dizendo que sentia minha falta não
me incomodou. Pela primeira vez em meses pouco me fez diferença saber que você ainda
tinha o meu número. Esperei muito por isso, pelo momento que você daria seu
braço a torcer e diria o que eu tanto queria ouvir. Você sentia a minha falta –falta
dos meus carinhos, dos meus beijos, das minhas risadas engraçadas, das minhas
piadas muito ruins. Falta das minhas crises, da minha histeria, das minhas
manias irritantes, de mim –e eu, do lado de cá, não conseguia sentir nem falta
de sentir falta de ti.
Talvez você nunca entenda isso. É que o mesmo tempo que te
fez ver que eu era importante pra você, passou pra mim. O mesmo ponteiro, a
mesma distância daquele mês que tu pediu um tempo para o dia de agora, um dia
quente perdido numa tarde de verão. Eu esperei por você todos esses dias
enquanto te via se divertir em todos os lugares por aonde ia. Você fugia, eu
ficava aqui vendo quando é que você iria voltar. Sei que foi na festa daquela
garota que eu odiava logo que terminamos, sei que se pegaram, sei que
terminaram antes mesmo de começar porque você continua com essa mania horrível de
pular fora quando vê que pode se afogar. É tudo medo, aliás, que agora eu sei.
Medo de se envolver e medo de se perder. E talvez, talvez lá no fundo eu saiba
que você tenha medo de conhecer alguém como eu outra vez. Vi você se apaixonar
tantas e tantas vezes enquanto eu ainda tentava limpar a bagunça que me fez,
tirando a sujeira dos machucados, indo fazer curativo todos os dias pra ver se
cicatrizava. Sem gritar ao mundo minha melhora, mas também silenciando a falta
que você me fazia todos os dias antes de ir dormir.
Peguei no telefone algumas vezes, meu amor. Sei teu número
tanto quanto você sabe o meu. Escrevi tantas mensagens tanto quanto você
escreveu pra mim –e nunca mandei –Não mandei pelo mesmo motivo que você e a
gente sabe. Aquela história de que quem sente sua falta te procura é a pior
merda que já inventaram. Nem sempre é verdade. Às vezes a falta só não é o
suficiente pra você abrir mão de coisas novas pra sua vida e procurar alguém
que, você sabe, te fez tão mal. Você me fez tão mal que eu acho que nem sou
capaz de colocar em palavras. Estive ao seu lado todos os dias, te ofertei um
ombro, um sorriso, um olhar apaixonado e umas palavras bobas que aprendi em
livros bobos que li por aí. Você nunca me deu nada além de sua obrigação de
estar comigo. O problema era meu, as dores eram minhas, as perguntas era eu
quem tinha que achar as respostas. Estava sozinha. Mas estava com você. E de
todos os males que um relacionamento pode enfrentar, o que realmente é capaz de
mata-lo é a falta de cumplicidade. A sua falta de cumplicidade nos matou.
Não se engane com a minha resposta seca. Você fez parte de
meus textos por tanto tempo, disfarçados em novos amores, sempre relembrando você,
que não faz ideia e ainda que me lesse não entenderia. Minha mãe ainda cita você
nos almoços de domingo. Mas já não dói mais, não incomoda, não tenho vontade de
sair correndo toda vez que tocam no seu nome. Encontrei com seus amigos e nem
senti vontade de perguntar como você estava. Eu sei que está bem. Eu sei que
está sentindo minha falta. Vi tudo isso estampado em suas notícias que aparecem
no meu feed constantemente. Sente minha falta tão dolorosamente que se
encontrou em novos braços, vários, pra ver se aquecia com o frio que eu deixei
na sua vida. Eu sei. Não é coisa da minha cabeça nem de um coração orgulhoso.
Mas a verdade é que não faz diferença. Você me entende? Nem
a sua dor, nem os seus problemas, nem suas questões, nem seu coração partido,
as suas perguntas são suas e só você poderá encontrar suas respostar. Aprendi
com você. A gente sempre aprende pelo exemplo, não é isso que sempre dizem?
Enquanto você curava sua dor com bebidas e mulheres e festas e felicidade
estampada em rede social, eu cuidava da minha deixando você doer inteiro,
dilacerador, loucamente em cada canto de mim. Porque eu sabia, se te deixasse
chegar até o meu final, nosso final também chegaria. E chegou.
Cedo demais pra você.
Já escuto as bandas que você me fez gostar sem pensar em você.
Já compro um vestido sem tentar imaginar se você gostaria de me ver vestida
nele. Já vou a lugares sem medo de topar com você lá. Se eu topar, também sei,
não precisarei sair correndo. Depois que o amor se vai, fica o rancor. Mas
quando a raiva de um relacionamento fracassado se acaba não fica nada. Só a amarga
indiferença de que não tem mais jeito, acabou, e boa sorte. Como um inquilino que não gostou da casa e
saiu dela antes do prazo estipulado. Depois que a bagunça é limpa, depois que a
sujeira é tirada, não sobra nada dele ali.
Não sobrou nada de você aqui.
Dia desses topei com uma nova conhecida sua, e, pelo sorriso
dela, sua nova conquista, num bar perdido por aí. Ela me perguntou se eu te
conhecia. Bebi minha cerveja com um sorriso sádico no rosto. Dei um sorriso
irônico. Pisquei. Então, com uma frieza que assustaria até você, disse que não
mais. E sabe de uma coisa, meu bem? Eu fiquei feliz de não mais te conhecer. No
fundo, aqui, bem no fundo onde você ainda pode ser encontrado e as cicatrizes
que você fez ainda estão marcadas, eu sei que nunca te conheci. Só te amei. E amei muito, a gente sabe.
E acabou. E passou. E já era. E não tem mais volta. E suas
saudades de mim não muda nada. Por isso fui tão seca em minha resposta hoje
pela manhã e não disse nem um “sinto muito”. Porque não sinto. Não mais por você.
Ali só cabia uma palavra, a mesma palavra que você me disse meses atrás e me
doeu tanto e hoje já não dói mais: acabou, amor, acabou o nosso amor.
E acredite, nada do que fizer, mudará o que eu (não) sinto
por você.
O que a pessoa pode falar mais sobre teus textos, hein? É cada um mais lindo do que o outro. Não é a toa que eu não consigo deixar de passar aqui :)
ResponderExcluirQuando a pessoa realmente tem o dom! Admiro demais o que escreve (dizem por aí que admirar é amar com a mente. É isso! Amo todos os textinhos) HAHA <3
Liiiiindo, fê! Como sempre, por sinal!
ResponderExcluirDaí que eu tava aqui dando uma olhada e: PUTA MERDA, FERNANDA <3
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