sábado, 5 de julho de 2014

Seja O Augustus Na Vida De Alguém


O filme A Culpa É Das Estrelas já estava em cartaz no cinema há pouco mais de quinze dias quando eu decidi que já era hora de parar de enrolar, tomar coragem e encarar a adaptação do livro mais comentado do ano passado. Sim, eu li o livro. E que me desculpe os cinemaníacos de plantão, eu tenho um pé atrás com adaptações dos meus livros preferidos. Eu sei que é outra indústria e por isso se conta uma outra história na tela gigante, mas, ainda assim, me sinto desrespeitada quando a coisa muda demais –e não gosto de me sentir desrespeitada –Apesar disso, quase sempre, eu vou ao cinema ver as adaptações, nem que seja pra criticar depois. Mas não era apenas por isso a minha demora e resistência para encarar a história: eu sabia que ia chorar. Eu sabia disso porque eu chorei demais no livro e porque eu sou uma chorona de carteirinha (dessas que chorou de dó da Samara em O Chamado porque ela apenas queria uma mãe, vocês entendem?). Eu não tenho cura. Resolvi esperar e deixar que os fãs mais histéricos fossem primeiro. Eu gosto de chorar com a sala do cinema vazia. Direito meu. E quando achei que a fila já teria diminuído, criei coragem, arrastei o namorado (porque chorar sem consolação de um ombro não tem graça) e peguei uma fila básica pra entrada e pra pipoca pra ver o filme no qual apostei todas as minhas fichas esse ano (e que, cá entre nós, não perdi nada por aposta-las mesmo).

Dispenso apresentações sobre; a maioria de vocês já devem ter visto e quem não viu apenas digo que está perdendo uma das mais grandiosas adaptações que já vi. Foi tudo bem fiel ao livro e, pasmem, fiel ao que eu tinha imaginado ao ler bem antes do livro se tornar o que vocês costumam chamar de “modinha”. Não é sobre isso que quero falar. Nem sobre o choro coletivo que meu namorado classificou como o maior que já presenciou numa sala de cinema. Não vou nem tocar no assunto de que já estava chorando lá pelo começo, quando passa a cena da mãe de Hazel dizendo que ela não seria mais mãe quando a filha quase morreu bem antes de conhecer Augustus. Nem mesmo tocar no assunto de que tinha uma menina na fileira de trás em convulsões no final do livro, chorando de soluçar, parecendo que estava morrendo de dor tamanha emoção que o filme causou nela. Deixo esses detalhes pra vocês imaginarem. O texto que trago hoje é para falar de outra coisa –e ainda assim da mesma coisa –a parte que eu mais gosto dessa história. Vou dividi-la com vocês. Espero que não se importem.

De todos embates, frases bonitas e provocações que John Green propõe no livro; de todas as metáforas e pensamentos que poderiam levar horas para serem discutidos; de todas as referências (excelentes, diga-se de passagem) que há nas entrelinhas, o ponto que me chamou mais atenção desde o começo foi Augustus e seu medo de ser esquecido. Uma das cenas que mais me marcou, mesmo quando estava lendo e os personagens eram apenas parte de minha imaginação, é quando Augustus, já em sua fase mais avançada da doença, sentado no parque com Hazel, diz: “parece coisa de criança, mas eu sempre quis ser super-herói. Eu sempre quis ser especial”. E Hazel, brava com a colocação dele, responde sem pestanejar “eu só queria que você entendesse que você é especial. Para mim.”.

Você parou para pensar nisso em algum minuto de sua leitura, dentre tantos momentos muito bem escritos e descritos pelo autor?

Eu pensei. Quando li a primeira vez eu parei nessa parte por alguns minutos para digerir, engolir, sentir o gosto amargo daquela provocação discreta. Depois li de novo a página e de novo e de novo. Até quase decorar a passagem. Uma das citações mais sinceras e cruéis do livro: a gente tá sempre querendo ser especial para o mundo; a gente, nesse tempo meio maluco em que um clique aqui causa um reboliço do outro lado do oceano, na globalização e com a ajuda dessa poderosa internet, tudo o que a gente quer fazer é ser notado. Mais do que isso: a gente quer ser notado 24 horas por dia do nosso melhor jeito. A gente quer ser o mais curtido entre os amigos do facebook, o mais seguido no twitter, o que a galera mais adora nas fotos no instagram. A gente fotografa momentos, mas não os vive. Congelamos a nossa felicidade o tempo todo para o mundo ver. Escrevemos em letras garrafais a todo instante: OLHA SÓ COMO SOMOS FELIZES E AMADOS E QUERIDOS E POPULARES E TODO MUNDO ADORA A GENTE. Mas será que somos felizes e amados e queridos e populares e todo mundo adora a gente mesmo?

A gente quer ser especial. Como Augustus. Só que a maioria não é como Augustus e não admite isso –nem sob tortura –Você pode estar negando veemente para si enquanto lê essas linhas , mas a verdade é que tudo que a gente faz on-line é para que as pessoas veem como somos off-line. A gente quer deixar nossa marca no mundo. E isso não é crime (nunca foi). A gente quer ser alguém que será lembrado mesmo quando estamos (ou viremos a estar) ausentes. A gente quer mostrar que somos felizes mesmo quando não somos. A gente quer ser e ter algo que a nossa vida não nos ofereceu.

“Pode não ser a vida que você queria, mas é a vida que você tem” Hazel completa sagaz e mordaz como sempre. E Augustus em seguida parece cair em si (ou resolve que não quer brigar com a namorada naquele momento) e diz que é uma vida boa. Boa, Augustus? Eu resmungo pra mim mesma. E pra vocês digo que essa era a parte que eu queria muito entrar na história, congelar a Hazel e sussurrar no ouvido do Gus: você é especial, idiota, para a pessoa que mais importa. Para a mulher que você ama. Isso é mais do que a maioria tem.

Porque, sabe, é isso que no final realmente importa. Não quantas curtidas no seu status você ganhou, nem quantos seguidores você carrega, nem quantas fotos maneiras você tirou na sua última festa, nem quantas bocas você beijou, quantos corpos você levou pra cama, quantos livros cults você leu, quantos amigos de farra você fez, nem nada disso. Não importa a quantidade da sua vida, mas sim a qualidade. Você entende? Não é sobre quantas pessoas você tocou o coração durante sua breve –ou longa –caminhada. Não tem nada a ver se você viveu quinze anos ou cento e quinze. Augustus era especial para Hazel porque, apesar de todas as dificuldades, ele lhe ofereceu o amor mais puro e verdadeiro que ele podia oferecer –com todas as suas limitações –Porque aceitou o amor dela, com todas as limitações dela. Porque ambos cresceram juntos e porque ambos amaram juntos –mesmo quando ambos eram uma granada, pronto para explodirem. No texto de elogio fúnebre de Hazel ela deixa bastante claro; apesar dos dias contados, Augustus ofereceu a ela a eternidade de um amor verdadeiro e sincero. Alguns infinitos são sim maiores que os outros –e o deles, não importa o quanto durou, era para sempre.

E é aí que eu quero chegar.

Não importa se você quer ser a médica do melhor hospital do mundo, o presidente do país, o jornalista de um excelente veículo de comunicação; não importa se você quer escrever um best-seller, ajudar um milhão de pessoas, acabar com a fome da África, achar a cura pro câncer (motivo, aliás, pela qual essa história existiu). Não importa o que você faça. Sua posição social. Não importa quantos corações você toque. O que vai te tornar especial é se você toca o coração e é especial para a pessoa que importa que você o seja. É ter alguém que vá te oferecer um ombro, um abraço e um beijo depois de um dia ruim. Alguém que te espere, que te ame e que te entenda. Que saiba suas limitações e que as aceite, uma a uma. Que entenda que alguns infinitos são maiores que os outros, mas isso não impeça de oferecer a eternidade nos dias contados que vocês têm (porque todos nós temos dias contados, a diferença é que alguns sabem quantos são e a grande maioria não). Não adianta que você conquiste o mundo se você, ao chegar a sua casa, não tenha ninguém que te ofereça um café ou um cafuné. O que importa é que você tenha e seja um Augustus na vida de alguém.

Você pode achar que a história de John Green exceda o limite do clichê aceitável; pode achar que ela fere e muito a licença poética; que é tragédia demais para uma história só. Não é sobre isso que se trata essa crônica, o livro e o filme. Não é, na verdade, nem sobre o câncer que quero falar. É sobre você ser o Augustus na vida de alguém. É sobre você entender que, sim, é impossível escolher se você vai ou não vai se ferir nesse mundo, meu velho, mas dá para escolher quem vai te ferir. É sobre você ser tão especial para uma pessoa que faça com que ela só queira estar ao seu lado, independente do que você conquistou, do que você tem, de quantos dias você vai viver e do que você vai oferecer a ela além do amor e do carinho. Augustus e Hazel aceitaram a escolha que fizeram e, principalmente, a vida que tiveram (sendo especial para o mundo ou não).

Espero que você aceite as suas escolhas e sua vida também. Espero que você seja o Augustus na vida de alguém. E que tenha em sua vida um Augustus para amar não importa o tamanho do infinito de vocês.

Okay?

Okay.


Postado em Endless Poem no dia 30/06/2014



8 comentários:

  1. Ai, meu Deus.
    Simplesmente perfeito, sério! Essa parte também me tocou muito, porque acho que a gente se esquece muito das pessoas que estão ali ao nosso lado o tempo todo só pra impressionar quem nem nos conhece direito.
    "O que vai te tornar especial é se você toca o coração e é especial para a pessoa que importa que você o seja".

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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    1. É a parte mais verdadeira do livro, na minha opinião
      obrigada!!

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  2. Acredito que hoje em dia seja muito mais difícil encontrar uma Hazel por aí, do que ser um Augustus. twitter.com/andredellan

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    1. hahahaha uma mulher pode ser um Augustus, não?
      a questão é: se entregue de verdade a alguém!

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  3. Não importa se um infinito for maior do que o outro, o que importa é que ele seja realmente verdadeiro do começo ao fim. E sim, isso implica as brigas as falhas e os acertos. Infinitos são feitos de milhares de constelações agrupadas pelo amor. ;)

    Nanduca, parabéns. Pra mim, teu melhor texto.

    abs,

    Pupila.

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    1. sdds você comentando e lendo isso aqui
      Obrigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaada Pupila
      :3

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  4. Eu estou apaixonada por este texto! Sem dúvidas, já é um dos meus favoritos. Li o livro e confesso que achei a história além do limite do clichê aceitável, como você disse, mas também só achei isso por ser cada vez mais raro nos dias atuais uma entrega tão sincera. Realmente não importa ter o mundo sem ter alguém que seja o seu mundo. Espero, um dia, ainda encontrar um Augustus.
    Parabéns e amo sua escrita ♥

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    1. ai, obrigada por esse comentário lindo <3333333333333333333333333
      eu gosto do livro, mas ele apela em alguns pontos, o que não o deixa ruim
      mas eu sou romântica incurável, então!

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Comentários

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