segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Migalhas de Amor Não São Amor


Dia desses,vasculhando histórias pra contar no grupos do facebook eu dei de cara com uma dessas que nos leva de volta pra nossa própria história perdida há um passado tão distante que a gente nem se dá conta de que realmente viveu (ou imaginou com uns personagens bobos quaisquer). A menina pedia ajuda porque não sabia o que fazer em relação ao seu namorado. Namorado que, segundo ela, era um ~desculpe a expressão~ filho da puta que só a tratava mal ou que, pior, não a tratava como sua namorada. Suas poucas linhas de relato mostravam um filho da puta no sentido lato da palavra: daqueles que mentem, saem sem avisar e parece deixar claro como água que você e nada é praticamente a mesma coisa. Um babaca, vocês podem ver. Um babaca que a menina continua amando.

Eu não to aqui pra julgar – quem sou eu pra isso né? – É claro que eu já tive minha cota de babaca na minha vida. Apesar de não terem sido muitos (eu descobri muito cedo que não sirvo pra ser feita de otária por muito tempo, vale ressaltar), eles tiveram uma marca muito importante no que eu me transformei. A gente é sempre contaminado pelos amores que vivemos. A paixão nada mais é do que gostar de uma idealização que criamos, geralmente, antes de dormir. O amor é aquilo que a gente sente quando, mesmo que descobrimos que essa idealização não tem nada a ver com a realidade, continuamos querendo ficar juntos.

Não entendeu? Eu explico.

Você conhece um cara l-i-n-d-o. Assim, do jeito que você sempre quis pra você. A amiga de uma amiga da sua prima que apresentou, jurou que vocês fariam um par maravilhoso e tinham assim, tu-do-a-ver (soletrado mesmo). Você, que está se sentindo sozinha, sem ninguém pra esquentar seus pés no frio ou te fazer um cafuné depois de um dia horrível da faculdade ou do seu trabalho, resolve pensar. Suas amigas namoram e você passa a maior parte da semana jogada na cama, lendo, vendo filme e querendo ser a mocinha daquela comédia romântica que você até reconhece que é meio ridícula, mas sempre volta pra ver. Então aparece esse cara, que dizem que tem tudo a ver com você e você acha lindo. E você resolve tentar. Por que não, né? Afinal, o amor não vai bater na sua porta com um laço de fita se anunciando, a gente tem que dar chances pra ele aparecer. E todo mundo quer um amor para chamar de seu (acredite, to-do-mun-do-mes-mo). 

Ele faz um primeiro contato, você resolve sair com ele. Nesse intervalo, obviamente, você já se informou sobre tudo o que ele gosta, não gosta, quer pra vida. Se bebe, fuma, já se drogou ou sabe-se Deus o que mais. Se ele tem rede social, tu já vasculhou até o dia da criação que ele deu oi a esse mundo que diz tanto e ao mesmo tempo quase nada sobre quem somos. Antes de sentar e conversar na mesa de bar ou depois da sessão do cinema, você já montou todo o tipo que ele é. Lindo, educado, gosta de rock e odeia funk, não é muito chegado a ler, mas, vá, ninguém é perfeito né? As informações que não conseguiu na rede social (pouquíssimas, a gente sabe) você já conseguiu com a amiga da amiga da sua prima, claro, que já repassou tudo pra você.

Aí você conheceu o cara.

Geralmente – e isso em 90% dos casos – nossa idealização não bate com a realidade. Aí a gente leva aquele choque, que eu adoro chamar de choque térmico mesmo. Cê treme inteira porque as noites em claro imaginando o romance de vocês quase não fazem sentido com esse cara que ta bebendo cerveja barata na sua frente e que, merda, nem disfarçou um arroto. Mas todo mundo diz que vocês combinam. E ele é mesmo bonito. Talvez você até consiga mudá-lo com um pouco de amor e muita disposição. Afinal, as pessoas podem mesmo mudar, não é mes...?

Encontre o(s) erro(s).

Eu não sei se essa foi a história da menina, porque ela resumiu num texto pequeno que dizia muito mais nas entrelinhas do que nas letras juntas ali, na tela do meu computador. Eu não sei se essa é a história de alguma de vocês. Não é a minha, isso eu garanto. Meu namorado está longe de ser perfeito, mas ele conhece a namorada que tem (e sabe que ser tratada como objeto é um atalho básico pra me perder em dois segundos). Mas em algum momento da minha vida foi a minha história. Já foi a história da maioria de nós. Nós, que desesperadas por amor, mendigamos qualquer migalha só pra ter um status de relacionamento sério e uma companhia no domingo tedioso.

Eu vou dizer uma coisa que provavelmente vai doer se alguém que estiver na mesma situação ler: você só recebe migalhas de amor porque está tão desesperada em amar que qualquer coisa, mas qualquer coisa que se pareça de longe com esse sentimento, você vai aceitar de coração aberto como um cachorrinho sem dono que aceita qualquer carinho mesmo depois de ser chutado pela porta a fora. Já começa errado se você quer alguém pra deixar de sentir-se sozinha. Primeiro a gente tem que aprender a se relacionar com a gente mesmo, na TPM, depois de uma prova horrível, uma reprovação ou um dia insuportável no trabalho. Aí a gente pensa em convidar alguém pra entrar na nossa vida. Esperar que a outra pessoa organize sua bagunça e preencha espaços que são só seus não é só desespero, como também burrice.

Uma relação só dá certo se as duas pessoas estão bem o bastante pra ficarem sozinhas. Só assim a gente se relaciona saudavelmente com alguém sem se tornar dependente. Só dá certo se vocês estiverem indo pra mesma direção e, de preferência, olhando pela mesma janela. Juntos. De mãos dadas. E não um na frente do outro. E não um melhor do que o outro. Quando há uma diferença muito grande entre um casal é meio caminho andado pra um acabar humilhando o outro. A gente tem que querer pra nossa vida quem nos coloca pra cima, quem nos chama de linda e diz eu-te-amo não no escuro do quarto, mas na frente de todos os amigos sem medo de pagar de ridículo. Gente que quer que a gente vá cada vez mais longe. Até porque, cá entre nós, ninguém precisa de alguém que dê ré ou aperte o freio da gente – a gente consegue fazer isso sozinha. Eu não minto: ficar sozinha é ruim mesmo. Mas pior do que isso é ter um relacionamento e ainda assim se sentir sozinha.

O cara que você diz amar é um babaca-filho-da-puta e você é uma garota linda, inteligente, mas que prefere fazer papel de idiota a mudar de posição, porque prefere uma companhia que te faz se sentir sozinha do que ficar sozinha consigo mesmo aprendendo a se amar. Se amar é difícil, eu sei. Mas vou te contar uma coisa que parece clichê e talvez seja (mas clichês, gata, em sua maioria são verdadeiros):

Quem ama por dois, sofre por três –dizia minha vó enquanto fazia comida no fogão- Vou além e me recordo da passagem famosinha-literária: a gente aceita o amor que acha que merece. Quem recebe migalhas oferece migalha também (pra si mesmo). E antes de amar alguém, minha cara, a gente tem que amar a única pessoa que está com a gente 24 horas por dia, com espinhas na cara ou toda produzida, descabelada ou arrumada, feliz ou triste, desempregada ou bem sucedida: a gente mesmo. Se você não gosta do seu reflexo no espelho não espere que outra pessoa vá gostar. 

Sei que dito assim eu estou dizendo que a culpa por ser tratada desse jeito é sua. Mas veja bem: parcialmente é sim. Quer ver o lado bom disso? Você só vai deixar de ser tratada assim por sua culpa também. Basta você respirar fundo e perceber que não adianta amar intensamente qualquer cara se você não vai se amar em primeiro lugar. Porque quem se ama, pra começo de conversa, nunca ia aceitar ser tratada como você está sendo. E pra terminar: saberia que migalhas de amor não são amor e que se relacionar é muito mais do que uma foto junta no seu perfil e um compromisso descompromissado que você aceita ter só para não ter que se suportar sozinha num domingo a tarde.


2 comentários:

  1. Ai Nanda, tu sabe que essa guria no fundo sabe de tudo isso, e ela sabe bem que devia se amar mais também, mas pra ela esse foi um ano em que parece que tudo conspirou pra pior. Os amigos que voltaram pras suas casas, a faculdade que ficou mais puxada e exigiu mais dedicação, outra mudança de casa, de uma república cheia de gente pra um apartamento completamente vazio e sem ngm pra conversar quando as coisas estão dando completamente errado e a gente não tem pra onde correr. Foi tudo junto sabe ? E essa pessoa que hoje tanto pisa e judia foi a dona do abraço que essa menina passou a chamar de lar. O amigo, que virou melhor amigo e depois namorado, a pessoa que dançava junto em noites de festa e era parceria pra voltas na praça, que falava da vida até altas horas nas madrugadas e foi se tornando o primeiro rosto que vinha na cabeça quando qualquer novidade acontecia. O que todo mundo sempre disse que não se devia fazer, ela fez. Abriu mão dos poucos amigos que tinha pra dedicar todo o tempo a esse cara. Quando tudo ainda estava naquele impasse comum de não-quero-arriscar-a-amizade-por-um-amor-que-pode-não-dar-em-nada ela dizia pra ele: -Tu que tem ouvido minhas confissões e sabe o quanto eu já sofri, deve entender pq eu não quero isso de novo agora. E ele disse pra ela que não devia ter medo, ele nunca ia machucá-la. Promessa clichê, mas como tu mesmo disse. Era alguém que ela confiava, que tinha um carinho imenso e jurava que conhecia.
    Não era verdade, o guri que ela aprendeu a amar, foi o motivo de muitas lágrimas, não só dessas que vem acompanhadas de gritos entre brigas numa segunda a tarde, mas principalmente dessas que simplesmente escorrem quando a gente deita a cabeça no travesseiro e começa a pensar nos rumos que a vida tá tomando. Esses dois nunca conseguiram ficar separados por mais de uma semana depois que tudo começou. Agora as coisas mudaram, tudo piorou na real, aquela sensação que um dos lados já deixou de remar sabe ?
    O peso começa a ficar maior do que aquilo que ela consegue suportar.
    E ela está indo embora da cidade e vê nisso uma esperança pra si, que esses oito meses fora sejam capaz de trazer pra si a paz e o amor próprio que ela perdeu em algum tropeço do caminho. Ela espera que as novidades sejam o bastante pra manter distante o pensamento desse alguém que deixa como legado mais uma coleção de cicatrizes. É uma história longa e confusa, mas ela espera conseguir seguir em frente mesmo na ausência desse alguém ..
    P.S.

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  2. Ai Nanda vc me consegue surpreende mais.Parabéns pelo texto,realmente vc e mais talentosa que eu pensava.Continue assim ;*

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Comentários

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