Ser a favor da legalização do aborto é ser a favor da democracia.

Ser a favor da legalização do aborto não é ser a favor do aborto. É ser a favor de um país, de fato, democrático. É ser a favor do direito de uma mulher não querer ir à diante com uma gravidez, seja lá por qual motivo. Ser a favor da legalização do aborto é ter em si a consciência de que, legalizado ou não, o aborto continuará acontecendo, mas com a diferença de que se legalizado as mulheres que precisam recorrer a esse método estarão correndo um risco quase nulo de morrer; é entender que as mulheres que precisam abortar não merecem ser atendidas por um médico vestido de açougueiro. Legalizar o aborto não é sinônimo de banaliza-lo. 

Centenas de mulheres morrem todos os dias em cima de macas, dentro de clínicas clandestinas que, muitas vezes, não tem os devidos equipamentos e tampouco uma estrutura adequada para realizar tal procedimento. Centenas de mulheres morrem quando vão fazer o aborto através de drogas que são vendidas por baixo dos panos e (pasme!) não é tão difícil assim de achar como dizem. Mulheres que não tiveram a oportunidade de ter um acompanhamento psicológico, uma anestesia, um quarto no qual ficar para ter pelo menos algumas horas de repouso. Mulheres que morrem porque tomaram um comprimido que contém substâncias que as mesmas não sabem se podem tolerar ou não.

Abortar não é ser uma assassina. Nenhuma mulher aborta por que acha bacana. Mulheres abortam por que não tem condição de criar uma criança, de manter uma gravidez. Abortam porque foram vítimas de um estupro, mas ninguém acreditou. Abortam por que preferem interromper uma gravidez a prosseguir com ela e depois largar uma criança mundo afora, indefesa. O que pode ser pior do que abortar. 

Eu sou contra o aborto, mas sou a favor da legalização dele. Mulheres próximas a mim já abortaram e, talvez, se tivessem tido o devido atendimento hoje em dia não teriam as sequelas de um ato que foi tão necessário quando a decisão foi tomada. Eu sou a favor da legalização do aborto por que sou a favor de uma saúde pública e democrática, que não visa julgar ou impor parâmetros religiosos, mas sim que visa garantir segurança e dignidade para aquelas que não têm condição de desembolsar quatro ou cinco mil reais para ter um aborto, digamos, digno, numa clínica ilegal. Eu sou a favor do direito da mulher decidir o que ela acha melhor pra si e para o feto que carrega dentro de seu ventre.