quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Bla-bla-bla Literário: Garota Exemplar

Título: Garota Exemplar (Gone Girl)
Autora: Gillian Flynn
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Páginas: 443

Quando me perguntam o que um livro tem que ter para me conquistar eu penso em duas coisas principais, que me fazem destacá-lo entre os vários livros que, ocasionalmente, leio por ano: fuga dos clichês e, principalmente, especialmente, personagens bem estruturados. Estudo psicologia em tempo integral e gosto de acompanhar os nuances de cada personagem, cada variação, cada detalhe que, talvez, pra maioria das pessoas possa passar despercebido. Mais do que uma boa história, livros para mim tem que ter bons personagens. Personagens que nos fazem acreditar nas suas histórias, personagens que nos convençam de que, por mais que seja absurdo suas ações, eles estão fazendo o certo. Personagens que nos dão a ideia de que podemos nos encontrar com eles ali, aqui, ao sair de casa e virar a esquina. 

Essas duas características são muito bem trabalhadas no livro da Gillian Flynn – autora norte-americana que tem feito muito sucesso de crítica por aí – Garota Exemplar (ou Gone Girl, em inglês). Gillian acerta em cheio ao decidir contar a história de Nick e Amy oscilando ora no presente, narrado pelo marido, ora pelo passado, narrado, primeiramente, pelo diário encontrado de sua mulher. 

A história, por si só, não é simples. É cheia de detalhes, complexidades e nuances que exigem do leitor um pouco de atenção se quiser acompanhar todas as mudanças. Por outro lado, é simples de ler. O casal Dunne é de longe um casal que possa ser considerado normal – muito pelo contrário, eles são absurdamente estranhos, e parecem estranhos entre si, mesmo após cinco anos de casados. É, então, nas primeiras páginas que a gente vai conhecendo Nick, um cara misterioso que, ainda que esteja contando sua história, esconde muitos segredos que só são revelados a muito custo, quando ele já não pode mais manter em sigilo. Não o levem a mal, Nick é apenas desesperado em parecer um cara perfeito, do tipo que prefere mentir a confrontar suas falhas. 

É no aniversário de casamento deles que Amy desaparece, deixando pra trás pistas para que Nick encontre seu presente de aniversário (um ritual de todo ano deles, apenas) e uma sala revirada. E mais nada. Ou, ao menos, mais nada do que o distante, esquivo e misterioso Nick consegue encontrar. Com tanto desconhecimento sobre a sua esposa – ele não sabia, por exemplo, que sua mulher parecia ter uma melhor amiga, vizinha, pois definitivamente não se interessava pelo dia-a-dia de Amy – obviamente ele vai se tornando o principal, e único, suspeito do sequestro de Amy Exemplar. 

Enquanto ele tenta provar sua inocência e achar pessoas que podem ter tido motivo para dar um sumiço em sua mulher, entre um capítulo e outro, nós nos deparamos com um diário de Amy que – parece – nos faz conhecer um pouco melhor a antagonista da história. Uma doce, devotada, apaixonada mulher. Que parece se sentir amedrontada, perseguida e temerosa em relação ao seu marido que, é isso mesmo, demonstra cada vez mais falta de paciência com ela. 

Mas, se Nick não é tão perfeito como deseja tão arduamente ser, aos poucos a gente vai percebendo que nem tudo é como parece ser. Na segunda parte do livro, a história dá uma reviravolta que, se você não estiver sentado ou deitado, você pode até cair pra trás. E, assim, entre mil e uma reviravoltas, Gillian vai nos contando uma história quase doentia de duas pessoas que fizeram das mentiras e das atuações a base de um casamento que, com toda certeza, não poderia terminar bem. É quase impossível largar o livro enquanto a trama vai sendo revelada. E mesmo que você espere por uma reviravolta que dá para sentir que virá, você ainda se assusta quando acontece a ponto de soltar um: puta merda, não acredito que foi isso que aconteceu. 

Pra quem gosta de pouco romance e muito suspense, com uma dose nada moderada de transgressão e mistério, é um prato cheio. Se você é do tipo que gosta mais de livros com romance, talvez, não ache tanta graça. Mas Garota Exemplar me fez ver que uma autora que eu desconhecia é que era exemplar. Especialmente ao acertar num final perturbador, que é quase um último soco no estômago antes da gente fechar o livro. Só para nos lembrar, pela última vez, que nada, absolutamente nada, é o que nos parece.

Cena do filme "Garota Exemplar" baseado no livro,
"Quando penso em minha esposa, penso sempre em sua cabeça. No formato dela, em primeiro lugar. Quando nos conhecemos, foi na parte de trás da cabeça que eu reparei, e havia algo adorável nela, em seus ângulos. Como um grão de milho duro e reluzente, ou um fóssil no leito de um rio. Era o que os vitorianos chamariam de uma cabeça belamente formada. Dava para imaginar o crânio com bastante facilidade. 
Eu reconheceria sua cabeça em qualquer lugar.
 E o que havia dentro dela. Também penso nisso: sua mente. (...) Suponho que essas indagações pairem como nuvens negras sobre todos os casamentos: no que você está pensando? Como está se sentindo? Quem é você? O que fizemos um ao outro? O que iremos fazer?" (Nick Dunne)


E aí? Vocês já leram esse livro? Se interessaram? Digam aí a opinião de vocês! Eu quero saber!



Um comentário:

  1. Encontrei seu blog por acaso, entre um clique e outro, e simplesmente adorei!
    Eu adoro este livro, Garota Exemplar, que como você disse, no momento da reviravolta, é impossível não soltar um "puta merda". Depois deste livro, li Lugares Escuros e Objetos Cortantes, e o que posso dizer é, há muito tempo não encontro uma escritora com uma narrativa tão enlouquecedora. É de arrancar s cabelos.

    Parabéns pelo blog!
    Sou viciada em leitura, e me arrisco um pouco na escrita.
    Bjs

    Luna Lovers

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