Eu me esqueci na Terra do Nunca e nunca mais voltei para me
buscar. Eu me deixei com Peter Pan e fui crescer. Eu cresci. E esqueci de mim e
daquela menininha elétrica sem medo e sem pesos no ombro. Eu esqueci que a casa
que eu morava e as pessoas pareciam muito maiores do que elas são. Os dias
também eram mais longos. Eu esqueci que brincar de casinha parecia divertido.
Eu abandonei meus sonhos de infância porque adulto precisa pagar conta. Eu
esqueci que nuvem era feita de algodão e tinha o formato da minha imaginação.
Parece vergonhoso agora eu admitir que acreditei em Papai Noel. Mas esqueci que
criança não tem vergonha. E dentro da caixa que guardei meus brinquedos, eu
esqueci minha própria magia que me faria voltar para a terra do nunca, no meio
da bagunça jogada no asfalto para o caminhão de lixo levar porque eu tinha crescido.
A gente perde muita coisa nessa nossa ânsia de crescer. Eu
cresci. E perdi a inocência num jardim florido, a minha cabeça para Rainha de
Copas e meu príncipe para a Cinderela. Eu mordi a maçã da Branca de Neve e
morri envenenada. Eu cortei o cabelo de Rapunzel, eu parei de pensar em coisas
boas e esqueci de como era voar. E só Deus sabe quantas fadas morreram porque
eu deixei de acreditar. Eu tranquei a passagem secreta que tinha no fundo do
armário e esqueci de sonhar. E nem me pergunte o que aconteceu com a minha
família imaginária que me salvava da solidão... Deles, eu esqueci até de
lembrar!
Eu expulsei os bichos papões debaixo da cama, mas os trouxe
para dentro de mim. Eu parei de ter medo do escuro e comecei a ter medo das
pessoas. Eu devo ter perdido um pouco daquela esperança infantil e inocente
também. E esqueci que a gente só precisa de um sorriso para melhorar nosso dia.
Eu cresci e me enchi de preconceitos, de censura e de medos. As pessoas já não são
tão legais, as coisas não parecem tão simples e amar é muito mais complexo do que
dar a mão e dançar juntos em alguma festinha da escola. Eu cresci e comecei a ver defeito em tudo –até
em mim. E as horas vagas para brincar eu comecei a separa-las para dormir. Eu
nunca mais acordei sábado pela manhã, me enrolei num cobertor e fui ver desenho
animado. Nem pedi colo para minha mãe porque fiquei grandinha e tive que
aprender a me virar. Eu cresci. E a maior prova disso é que aprendi a segurar o
choro e a fingir que está tudo bem quando, na verdade, tudo parece desmoronar.
Eu quase não lembro de contos de fadas e dou risada dos “felizes
para sempre” como se fosse a coisa mais idiota do mundo. Mas idiota mesmo foi
eu ter esquecido no gorro da Chapéuzinho Vermelho o quão legal eu achava que
era ser adulto. É, eu
cresci... E esqueci o caminho que me levava a Terra do Nunca para conseguir voltar e finalmente me buscar.
Texto criado para a Blogagem Coletiva do blog Isso Não É Um Diário,
simplesmente lindo *---*
ResponderExcluirPERFEITO !
ResponderExcluirAh obrigaaaada
ExcluirMuito f*d@ merece ganhar !
ResponderExcluirAI sua LINDA
Excluir<3
obrigada
"Eu abandonei meus sonhos de infância porque adulto precisa pagar conta. Eu esqueci que nuvem era feita de algodão e tinha o formato da minha imaginação." E eu fiz tudo isso pensando que seria mais fácil abandonar os sonhos e viver num mundo real, num mundo onde a tristeza e a decepção fazem parte da minha estrutura.
ResponderExcluir- amei! :')