segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Sobre Relacionamentos, Liberdade e Confiança


-Queria um namorado.
-Você quer viver numa prisão?

É com esse diálogo, quase um tapa na cara, que inicio esta crônica. É quase impossível ler sem levar um soco no estômago. Ou como ver o que você acredita desmanchar na sua frente. Não sei vocês, mas eu não aguentaria viver numa prisão. E na verdade, não sei quando surgiu a ideia de que namoro seria isso. Só porque você está com uma pessoa –com a qual, supostamente, você quer estar –não quer dizer que você esteja presa só a ela. Que só pode sair com ela. Que só consegue rir e se divertir com ela. Né? Bem, eu espero. E, se você quer estar com alguém, se ela te faz bem e se você está feliz, como pode considerar o relacionamento uma prisão?

Não sei em que tipo de relacionamentos vocês estão se envolvendo. Acredito fielmente que dá para amar uma pessoa e não viver em função dela. Dá para ir a lugares sem ela, se divertir, ter amigos diferentes. Dá para ser feliz sem a pessoa ao seu lado, sabiam? Dá para curtir um cinema sozinha, dá para ir num show que o outro não gosta, mas que você não quer perder por nada, dá para simplesmente curtir uma solidão num dia qualquer se não estiver afim de sair. Porque às vezes a gente precisa fazer as pazes com a gente mesmo. Porque às vezes é bom ficar com a gente sozinho, só pra se lembrar da parte mais importante de uma relação, por mais egoísta que isso possa te parecer. Mas a verdade é que pra ser de alguém, primeiro, a gente precisa ser inteiramente da gente.  Não conseguiria ficar num lugar em que me sinto presa nem amar uma pessoa que não me dá a liberdade de ser quem eu quiser. Não consigo ficar com alguém que não confie que eu possa sair sozinha pra um lugar porque tem medo que eu conheça um cara interessante e o largue por um momento. Não consigo lidar com a cobrança excessiva que vem de alguém –mal consigo aguentar tudo isso da minha mãe, que dirá de um cara que, muito provavelmente, me amará muito menos que ela.

A verdade é que tem gente que fica tão desesperado pra ser de alguém que esquece-se de ser dele mesmo. Espero que não seja o seu caso. Não é o meu também. Gente que quer tanto ter alguém num status de rede social que esquece que ter um relacionamento é mais do que fotos, declarações públicas visíveis e aliança no dedo. Gente que tem que dividir a senha da rede social, que tem que avisar a toda hora onde está, com quem está, o que está fazendo e por que raios você não me ligou quando decidiu sair de um lugar pra ir pro outro mesmo? Gente que pira quando o telefone fica fora do ar –sabiam que às vezes os telefones realmente ficam fora do ar? Acontece porque as telefonias no Brasil não são das melhores. –Gente que quer satisfação de tudo, que só deixa o outro sair com a autorização dela, que precisa saber quantas vezes a pessoa vai ao banheiro. Aí eu concordo: namoro virou prisão. Ou talvez mais do que isso, porque até os presos tem direito a um banho de sol às vezes. Não há namoro que dure, amor que resista sem um pouco de liberdade.

Liberdade de gostar do que quiser. Liberdade pra ter os amigos que quiser. Liberdade pra sair num dia qualquer com uma turma qualquer sem precisar dar satisfações a um alguém qualquer. Liberdade de usar uma roupa curta, vá, se você tiver vontade. Sem censura de um namorado ciumento e controlador. Liberdade de se esconder de vez em quando e curtir sua própria companhia, pra ver se dá pra ouvir o coração. Liberdade pra sentir falta de quem você ama, também. Porque, o tempo todo junto, cadê a graça da saudade, do reencontro, da sensação de olhar naqueles olhos depois de algum tempo e ainda sentir aquele soco no estômago que um dia você chamou de paixão?

E pra ter liberdade, é necessário ter confiança. Não só a confiança que o outro –o parceiro pra quem você deu seu coração, a quem você convidou para entrar na sua vida –não vai te trocar por uma loira mais gostosa ou uma ruiva linda numa festa em que você não está. Mas a confiança em si mesmo também. Em saber que é boa, é o suficiente e, se ele te amar, não há loiras gostosas e ruivas lindas que poderão o tirar de você. Ninguém é roubado de ninguém, no fim das contas, porque ninguém é de ninguém. Sou do mundo. Somos do mundo. E por ser do mundo, não tem coisa mais linda do que voltar para os mesmos braços mesmo com um mundaréu de pessoas esperando por você. Ir para onde você quiser e ainda assim escolher regressar: é isso que é um bom relacionamento, um bom namoro.

Pode ser sonho da minha parte, mas acredito que um bom namoro não nos tira a liberdade e nem nos prende. A porta fica aberta pra quando você quiser sair. A porta continua aberta se você quiser voltar. E se não quiser, ora, ir embora nunca foi crime. Machuca, é claro, dói, sangra, mas ninguém morre por isso. E, já se diz um velho ditado, sem morte, sem crime. Além disso, é como aquele velho conselho de sempre: deixe-o livre. Se voltar era porque era seu. Se prender a alguém não garante que serão felizes para sempre. Na verdade, ninguém garante. A felicidade tem a ver com momentos e momentos, ah, eles sempre passam e permanecem só na memória. Não adianta se agarrar firmemente pra não deixa-lo ir: sem respiração, é muito possível que ambos morram.

Ao decidir namorar, você não tem que abdicar de uma parte sua –que vai continuar sendo sua. Não tem que achar que, por ter achado sua metade da laranja, são um só. Não, vocês não são. A verdade é que vai ter coisas, que por mais que vocês se deem bem, você vai preferir fazer sozinha. Vai ter momentos que você quer sentar e conversar com um amigo sem ser espionada. Vai ter uma música que só um de vocês vai gostar e é bom ouvi-la às vezes, nem que seja para dançar sem par. É como achar um equilíbrio no que você e ele gostam de fazer e fazer juntos, mas não se desesperar que, ora, ele odeia teatro então você tem que começar a odiar também. Se anular numa relação é a maneira mais fácil de perder de você mesmo. E não importa o quanto você se ache no amor que sente pelo outro, antes de ser dele, você precisa aprender a ser só sua primeiro.

Namoro tá muito mais ligado a companheirismo do que a qualquer outra coisa. É poder contar com o outro pro que der e vier, mesmo. Com as dores e as risadas. É saber que ele vai estar ali quando você rir, chorar, se desesperar e, voila, quando for embora. É ter um ombro pra deitar, mas também um ombro pra empurrar se não quiser. É saber ouvir e falar. E se calar. Namoro é quando a gente pode ir pra qualquer lugar e conhecer outros abraços, mas ainda assim preferir um –aquele, que você não sabe explicar ao certo porque tem tanto impacto sobre você. E isso nunca será encontrado num relacionamento em que você se sente preso ou sufocado pela presença do outro. Num relacionamento em que não há a liberdade de você ir e vir e ainda assim preferir ficar.

Romantismo?

É, pode ser. Li contos de fadas demais quando criança e isso pode ter estragado completamente o lado prático do meu lado romântico. Mas pra mim, uma boa pergunta pra quem diz que quer namorar seria:

-Você quer alguém só pra falar que tem alguém ou quer alguém que possa amar, sem deixar de respirar, sem se sentir aprisionada mesmo estando junto e que consegue confiar mesmo estando separados?


Torço, sinceramente, pra que você escolha a segunda opção.





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5 comentários:

  1. Ai, Fernanda. Que lindo! Já adoeci por esse motivo (de ter que fazer tratamento com psicólogos porque coloquei outra pessoa em primeiro lugar) e é TÃO BOM quando a gente entende tudo isso que você disse, sabe? Confiança, liberdade e amor próprio são essenciais. Compartilho de cada palavra. E que mais e mais pessoas entendam isso, por favor.

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  2. Olá

    Eu vi no twitter onde divulgou o link do seu blog, por isso resolvi acessa-lo para conferir, achei seu blog muito massa e interessante, se possível acesse o meu blog também, o endereço é esse daqui http://chatosechatolin.blogspot.com.br/ se gostar fique a vontade para comentar, compartilhar até me seguir no twitter. O link do twitter está na página principal logo acima,é só clicar e seguir ou aqui https://twitter.com/chatosechatolin espero que tenha gostado do meu blog, abraços.

    Fabio Fraga

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  3. Você disse tudo o que eu sempre tive guardado pra mim. Namoro não é prisão, são duas pessoas que se gostam convivendo!
    http://dedodemenina.blogspot.com.br/

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  4. Eu concordo mas tem um porém. Essa historia de ir e conhecer outros abraços (principalmente os q sao dados com pernas) enquanto namora, se chama traição e geralmente se faz escondido. Entao transar com a loira mais gostosa escondido, ainda o trará pra mim no fim do dia (ou no começo do outro) mas cadê o respeito da parte do outro? Cadê o esforço mutuo? E se ele ama ir pro bar encher a cara com os amigos a noite toda mas eu ja nao estou nessa fase e nao vejo isso com bons olhos? Mesmo q nao o prenda, mas quero estar com alguem menos ativo, com programas mais calmos.. Entao no fim, eu q dei tanta liberdade pra deixar ir, aprontar e voltar, serei a pessoa a ir de vez. Por ver que a liberdade que eu dei pro outro, era só dele. Que ele nunca se importou em diminuir as saídas mesmo sabendo que eu preferiria, sabendo que foi egoísmo dele pensar apenas em sua satisfação pessoal... Prender nao ajuda, mas soltar muito tb nao.

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