sábado, 17 de janeiro de 2015

Olhos vendados


Sempre procurei por caras que eu admirasse a personalidade muito mais que qualquer corpo que estampa essas revistas fitness e que respiram suplementos. Procurei por caras que trocassem noites viradas na balada por barzinhos intimistas no final da tarde. Procurei por caras que não quisessem estampar somente o sentimento 24 horas por dia nas redes sociais, mas que falassem entre nós o quanto a relação é especial. Procurei por caras que soubessem conversar sobre o novo lançamento do cinema, o mercado da música, a manchete do jornal e estivessem sempre dispostos a trocar antigas concepções e também a alterarem a minha opinião.

Procurei por caras que sentissem muito mais do que prometessem em centenas de palavras calculadas e que seriam todas as vezes digeridas, mas causariam azia na próxima briga do sábado à noite. Procurei  por caras que não julgassem minhas escolhas por mero egoísmo, mas que me questionassem sempre o porquê das minhas decisões e me fizessem ver oportunidades ainda ocultas. Procurei por caras  que sonhassem e planejassem a carreira, viagens e futuras conquistas comigo e sem mim também, mas que eu fosse alguém que pudesse dividir tudo isto e conversar, numa terça-feira qualquer, sobre nossa vida daqui a cinco, dez, vinte anos. Procurei por caras que mesmo com minhas inúmeras barreiras e angústias internas ultrapassassem tais questões e desvendassem o que nunca ninguém conseguiu.

Procurei por caras que me demonstrassem que nenhuma rotina de casa-trabalho-faculdade possa ser tão sufocante e que um telefonema, nessa era de mensagem instantânea e tão impessoal, possa alterar totalmente o meu humor na grande maioria das vezes. Procurei por caras que me proporcionassem um sentimento de liberdade e carinho. Alguém que segurasse sempre a minha mão, mas que não a aprisionasse. Alguém que me desse espaço e amplitude para conhecer locais que jamais imaginei e que, ainda que eu enxergasse o novo, quisesse sempre ter o velho conhecido local para repousar. Alguém que fosse o meu co-piloto e assumisse o controle dos botões quando meu painel pifasse.

Procurei por caras que fossem meus amigos, cúmplices, amantes e não apenas uma dessas características. Procurei por caras que refletissem valores que considero importantes e que também fossem diferentes em tantos aspectos, mas que nós fôssemos seres maleáveis e livres para sermos outros com o tempo. E também para sermos sempre os mesmos diante de qualquer dificuldade e em qualquer ambiente que frequentássemos. Procurei por caras que sorrissem com os olhos e proporcionassem intimidade, cuidado e respeito com pequenos movimentos corporais. Procurei por caras que transformassem acontecimentos diários em singelos atos de sentimento. Procurei por caras simples. Procurei por caras reais.

Até que, um dia, olhei para o  lado e abri os olhos. Tive o click. Procurei por um cara que já estava ao meu lado. Pronto. É você. Somos nós. 

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