sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

#PAPODEAUTOR: A Importância da Construção De Personalidade Da Personagem (#dica3) - parte I



Na #DICA2 eu falei sobre como é importante conhecer as personagens da sua história, desde seu nome até seu objetivo de vida. Espero que todo mundo tenha fichado num caderno, no word, na testa, que seja, todas as informações que sabe sobre as pessoas que fazem sua história andar. E que, ao ver que algumas informações estavam faltando, releram a história para buscá-las e/ou pensaram no que escrever no espaço.

Todo mundo fez o dever de casa ne?

Hoje eu vou falar de uma coisa tão importante quanto saber do que seu personagem gosta ou não gosta no enredo: a caracterização PSICOLÓGICA dele. Sabe quando você pega um livro e até acha a história legalzinha, bonitinha, o romance é engolível, mas quando você termina você pensa: FALTOU ALGUMA COISA AQUI? Geralmente o que falta é exatamente isso: a construção psíquica das nossas criaturas.

Personagem raso é uma das coisas que mais me faz abandonar livros. E também, infelizmente, é uma das coisas mais comum na minha vida como leitora. Eu, como estudante (e amante!) de psicologia não consigo aceitar quando está faltando isso na história pelo simples fato de que não existe ninguém no mundo sem construção psíquica por trás, independente do que você acredita como psíquico. Então, quando aparece um personagem mal trabalhado, dá a impressão de que na verdade ele não existe. E se ele não existe, e se eu não posso encontrá-lo na esquina, bater um papo ou convidar para um café POR QUE RAIOS EU VOU PERDER MEU TEMPO LENDO A HISTÓRIA DELE?

Veja bem, embora na nossa vida ~ real ~ nem sempre a gente se preocupa em refletir sobre a causa e o efeito das nossas ações, ou das ações das pessoas próximas a nós, quando a gente está lendo nosso cérebro trabalha com causa-efeito o tempo todo. Por isso, quando você escrever uma cena pense sempre: POR QUE MEU PERSONAGEM ESTÁ AGINDO ASSIM? O porquê é basicamente a primeira estruturação da personalidade da personagem. Ou seja: se você não consegue explicar porque da atitude dele, alguma coisa está errada no seu enredo.

Existem várias formas de você construir a personalidade da personagem. Como eu estudo psicologia e já tenho uma predisposição para uma teoria de personalidade, meus personagens estão estruturados no modo psicanalítico mesmo: eles são ou neuróticos, ou psicóticos, ou perversos. Você tem que fazer isso? Não! Você precisa encontrar uma teoria de personalidade que se identifica mais e entende mais para usar nessas horas.

AI FERNANDA QUE SACO, EU NEM GOSTO DE PSICOLOGIA, VOU TER QUE ESTUDAR PERSONALIDADE?

Não. Mas se você quer construir histórias cativantes, você vai ter que dar uma lida nem que seja nos materiais para escritores sobre o assunto sim. Esses materiais tem uma linguagem mais facilitada, para quem está alheio da linguagem técnica da personalidade ou não vê muita graça. E antes que você venha com preguiça pra cima de mim eu vou adiantar: se você não gosta de estudar e pesquisar, desiste de escrever. É assim que funciona! 70% do nosso trabalho é estudo e pesquisa, mesmo que nada disso vá para o leitor explicitamente.

Livro muito bom para quem não conhece nada de psicologia e quer começar do zero,
a partir de uma abordagem feita para autor. Recomendadíssimo!

Vou dar alguns exemplos sobre construção de personalidade bem feita, de diferentes modos de arte agora, para vocês entenderem melhor como isso é importante.

DOM CASMURRO – o clássico de Machado de Assis, narrado por Bentinho, tem uma construção de pano de fundo FUCKING FODA, mesmo que ninguém tenha lido isso (personagens narradores geralmente não são personagens confiáveis, mas sempre deixa passar algum detalhe nas entrelinhas e o leitor sempre capta a ideia, ainda que não consiga explicar). Todo mundo que lê Dom Casmurro, defendendo ou não Capitu, sabe que Bentinho era doente, louco, sentia ciúme até do vento, enfim, na linguagem coloquial atual: era um perfeito de um namorado sinistro. Parou pra pensar, né? PERSONALIDADE BEM CONSTRUÍDA (mas estamos falando de Machado, e Machado era sempre impecável em todos os detalhes da escrita).

Annie Hall (ou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, o clássico filme do Woody Allen) é um outro exemplo para se assistir. Ali ele usa construções psicanalíticas (Woody é declaradamente fã de Freud). O noivo obsessivo e a noiva histérica em sua busca de satisfazer e entender o outro, enquanto estão em análises, é um exemplo mais claro impossível de estrutura psíquica psicanalítica. Se você nem sabe o que é psicanalise direito ou não conhece NADA de teoria de personalidade e tá com preguiça de ler, é só parar duas horas para assistir a esse filme (além disso, é um filme MUITO BOM!).

Um autor que usava muito bem essa caracterização era Sidney Sheldon. Um dos meus livros preferidos dele, CONTE-ME SEUS SONHOS, a personagem sofre de dissociação de personalidade. Outra autora contemporânea que fez isso muito bem foi Gillian, de Garota Exemplar. Emily Giffin é outra rainha nesse quesito, de modo que quem lê as histórias dela automaticamente se conecta com as personagens.

Gastei esse tempo todo só para convencer você a estudar um pouco de personalidade e colocar nos seus personagens. Não foi ao acaso! Muito autor que eu conheço acha essa parte desnecessária. Mas não é!

Quando pensar na sua história pense sempre POR QUE MEU PERSONAGEM É ASSIM? Foi assim que comecei a construção da Vênus, protagonista de Tudo Aquilo Que Eu Não Sou (postada no wattpad pra quem ainda não acompanha). Vênus é maluca, adora usar droga, beber até passar mal e ir para cama com qualquer um sem segurança alguma. Todo o enredo é baseado em problematizar abuso de mulher semiconscientes em festas e drogas recreativas, mas antes de chegar a esse objetivo eu tive que pensar na MOTIVAÇÃO da Vênus pra fazer TUDO O QUE ELA FAZ.

Caracterização de personalidade é o que mostra ao leitor a MOTIVAÇÃO da personagem. E a motivação é o que explica a ele POR QUE ELE FAZ O QUE FAZ. Assim, ainda que o leitor esteja contra sua personagem (quase todo mundo é contra as atitudes de Vênus) ele não larga a história porque COMPREENDE POR QUE ELA AGE ASSIM. Ainda que, lá, eu não tenha revelado tudo abertamente (eu adoro segurar informações e soltar aos pouquinhos, mas isso é papo pra outra dica).

Sendo assim, lembre-se da dica anterior quando eu falei sobre ARCO DE PERSONAGEM e na questão O QUE ACONTECEU ANTES DA HISTÓRIA CONTADA PARA SUA PERSONAGEM SER ASSIM. (no caso da Vênus, a irmã dela morreu e ela se responsabiliza/se culpa por isso).

Ou seja: olhe pro seu enredo, convide seus personagens principais para um café e pergunte a eles: POR QUE VOCÊS SÃO ASSIM? Se eles te responderem, anote! Se não tiver resposta, bem, dá uma relida no enredo, no que já escreveu e tente encontrar onde está o problema e em que você pode melhorar.

Combinado?

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